Aos 35 anos, o festival Fazer a Festa submete-se a uma autópsia

Com grandes dificuldades financeiras, o Art'Imagem tenta manter vivo um festival de teatro criado há 35 anos no Porto.

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Cavaleiro Precisa-se é apresentado a 1 de Maio, pelo Teatro das Beiras DR
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Lullaby, de Rui Paixão, está agenda para a tarde de 23 de Abril DR
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Fábrica das gravatas, de Pedro Correia, acontece a 25 de Abril DR

O Fazer a Festa – Festival Internacional de Teatro, está cada vez menos internacional e continua, como há década e meia, em “modo resistência”. A edição de 2015, a última sob a direcção artística de José Leitão, arranca a 22 de Abril, com uma programação que junta produções do Art’Imagem e de outros colectivos de Portugal, Galiza, Brasil e Cabo Verde mas longe, na ambição, dos sonhos do seu fundador, que lamenta não ter conseguido, após o fim do consulado de Rui Rio, que o novo executivo da Câmara do Porto apoiasse um dos mais antigos festivais internacionais de teatro do país.

Aos 35 anos, e na despedida de José Leitão (que é mais uma passagem para um segundo plano, no apoio ao próximo director do festival), o Fazer a Festa dá o corpo ao manifesto, permitindo-se uma autópsia, em jeito de exposição no Teatro Carlos Alberto. Autopsia de um Festival de Teatro – Lembranças, Erranças e Naveganças, reúne, sob curadoria de José Maia, materiais, em vários suportes de três décadas de trabalho desta iniciativa que foi a primeira razão de ser do Art’ímagem, e que depois de um período de pujança esbarrou na famosa “lei da rolha” de Rui Rio – uma cláusula nos contratos de apoio à cultura que impedia criticas dos beneficiados ao executivo.

A polémica levou o Art’Imagem a procurar outra casa – a Quinta da Caverneira, na Maia – como alternativa ao Porto, cidade que, após sucessivas “ameaças” – a companhia não consegue abandonar. Mesmo sem o interesse do actual executivo – que o anterior vereador, Paulo Cunha e Silva, condicionou ao aval do director do Rivoli/Teatro Municipal, que desistiu do apoio a um espectáculo, explicou Leitão. “A cidade mudou, está mais dinâmica”, assume o rosto do Fazer a Festa, mas as escolhas da equipa liderada por Rui Moreira não beneficiaram as companhias históricas, considera.

Mas o Fazer a Festa não se dá como morto. A autópsia de José Maia é feita em vida, num espaço cedido pelo Teatro Nacional de São João, e haverá teatro na Maia, na Quinta da Caverneira, e nos jardins da Casa das Artes, graças ao apoio, neste último caso, da Direcção Regional de Cultura do Norte. No palco desenhado neste edifício por Souto Moura é que não haverá espectáculos, porque os 15 mil euros de orçamento não permitem garantir as condições técnicas para acolhimento das produções previstas, explicou o programador, assinalando que a edição deste ano passará também por um encontro/reflexão sobre o festival, marcado para 24 de Abril, na Junta de freguesia do Bonfim, uma das primeiras casas deste evento.

Em termos de teatro, o festival abre com uma performance de António Lago, no âmbito da inauguração da exposição, a 22 de Abril. No domingo, já nos jardins da Casa das Artes, veremos e ouviremos Lullaby, do palhaço Rui Paixão – contratação recente do Cirque du Soleil – e do músico Carlos Reis. No mesmo local, no dia seguinte, o Art’Imagem continua a festa, com Sonhos e Lembranças de Galeano, a partir de textos de Eduardo Galeano traduzidos e adaptados por José Leitão. No feriado do 25 de Abril, outro clown, Pedro Correia, apresenta Fábrica de Gravatas. Estes três espectáculos estão marcados para as 16h.

Ainda a 25 de Abril, na Junta do Bonfim, acontece o espectáculo Quantos Leminskis Cabem Aqui, performance músico-teatral do brasileiro Bruno Boaro, com Daniela Pêgo, do art’Imagem (às 18h), e uma apresentação de festivais internacionais de teatro de Portugal, Brasil e Galiza (18h30). Na terça-feira, dia 26, o festival passa para a Quinta da Caverneira, onde o Art’Imagem apresenta A Maior Flor e Outras Histórias Segundo José, peça infantil a partir de textos de Saramago, para ver sob marcação às 10h30 e às 14h30 e no mesmo horário, no dia seguinte. Às 17h, no Teatro Carlos Alberto, há uma tertúlia sobre a crítica de teatro, em torno de um dos seus cultores, Manuel João Gomes, antigo crítico do PÚBLICO, que morreu em 2007.   E o mesmo espaço recebe outra homenagem póstuma, A Mário Viegas, no dia 27, à mesma hora.

A 28 de Abril, na Quinta da Caverneira, sobem ao palco os brasileiros Harém Teatro, do Piauí, para apresentação da peça Um Bico para Velhos Palhaços, a partir do texto Velho Palhaço Precisa-se, do romeno Matéi Viesniec, que horas antes, no mesmo local, será interpretado pela comunidade de leitores de teatro que o Art’Imagem vem dinamizando no seu espaço.  Neste mesmo espaço, a 29 de Abril, o festival comemora o Dia Mundial da Dança com a apresentação de Trabalhos Coreográficos, dos alunos do Estúdio B. E no sábado, os galegos do Xerpo Teatro regressam a um clássico, A Metamorfose, de Kafka, às 21h30. A festa termina domingo, 1 de Maio, com a apresentação, também na Maia, de Cavaleiro Procura-se, pelo Teatro das Beiras, às 17h, seguida de Nôte d’Mindelo, concerto de música e poesia cabo-verdiana, por Bilan e Flávio Hamilton.  

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