António Costa regressa aos Paços do Concelho “à procura de novas Mourarias”

No Intendente, para onde o presidente da Câmara de Lisboa se mudou há três anos, foi feito um investimento público de 11 milhões de euros no património e de 2,5 milhões de euros no domínio social.

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António Costa ocupa o gabinete no Intendente desde Abril de 2011 Rui Gaudêncio

O presidente da Câmara de Lisboa vai abandonar o gabinete de trabalho que ocupa no Intendente há cerca de três anos e regressar aos Paços do Concelho, pelo menos enquanto estiver “à procura de outras Mourarias”. António Costa congratula-se com os progressos alcançados nesta zona, nomeadamente ao nível da criação de emprego, mas admite que “vários dos problemas estruturais persistem”.

Foi em Abril de 2011

que o autarca se mudou para o número 27 do Largo do Intendente Pina Manique, onde em tempos tinha funcionado uma fábrica de azulejos da empresa Viúva Lamego, com o objectivo anunciado de imprimir a esta área “a dinâmica de regeneração” de que há muito tempo carecia. O imóvel foi arrendado por dez anos, por um total de 672 mil euros, mas desde o início do processo António Costa foi dizendo que só lá ficaria até a mudança que ambicionava estar “em velocidade de cruzeiro”.

Esta quarta-feira, o autarca afirmou, numa reunião da Câmara de Lisboa, que chegou “o momento de mudar de página” e de “regressar aos Paços do Concelho, à procura de outras Mourarias”. O edifício que desocupará em breve, revelou, será cedido à Junta de Freguesia de Arroios, que “está a precisar de novas instalações”. 

António Costa destacou que aquilo que foi “original” neste caso foi “a metodologia aplicada”, que passou pelo desenvolvimento em simultâneo de intervenções de diferentes naturezas, nomeadamente ao nível do edificado e do espaço público, das pessoas e dos equipamentos. O presidente da câmara não escondeu que a sua ambição é que esta metodologia possa agora ser replicada “noutras zonas da cidade”: “Há outras Mourarias na cidade a que temos de acorrer”, disse, não revelando que localizações possíveis para um futuro gabinete tem em mente.  

Esta reunião camarária contou com uma apresentação do coordenador do GABIP da Mouraria (o gabinete institucional criado para coordenar a actuação nesta área de Lisboa), que afirmou que nos últimos anos foram aqui realizados investimentos públicos de 11 milhões de euros em obras no edificado e no espaço público e de 2,5 milhões de euros no domínio social. Além do município, intervieram neste processo, em particular no desenvolvimento do chamado Plano de Desenvolvimento Comunitário, cerca de 40 actores. 

Os principais objectivos desta intervenção, lembrou João Menezes, eram “melhorar a vida” de quem já aqui vivia ou trabalhava e “atrair novas pessoas”, fossem residentes, trabalhadores ou turistas. “E evitar um excesso de gentrificação, de turistificação e de especulação imobiliária”, acrescentou.

Um dos aspectos positivos destacados pelo coordenador do GABIP foi a criação do Mouraria + Emprego, um gabinete de apoio à empregabilidade, que segundo disse tem mais de 600 pessoas inscritas e permitiu o surgimento de mais de 200 empregos não precários. Já António Costa sublinhou que essa criação de postos de trabalho foi feita “em contraciclo” com aquilo que se verificou no país.

“Foi muito importante o que está feito mas também o que está para ser”, afirmou ainda o autarca, reconhecendo que há “problemas estruturais” por resolver e obras por concretizar. Entre elas a “intervenção no espaço público da parte alta da Mouraria, e a articulação com a Graça”, mas também a criação de uma praça com uma mesquita, projecto que implicará a demolição de um edifício na Rua da Palma.

O vereador do Urbanismo e da Reabilitação Urbana aplaudiu a “transformação profunda” já verificada na Mouraria, mas confessou estar preocupado com “o caminho perigoso” que se avizinha. “Infelizmente estamos a ser vítimas do nosso próprio sucesso”, disse Manuel Salgado, referindo-se ao facto de não só aí mas na generalidade do centro histórico estarem a surgir muitos alojamentos de curta duração.

“Isto está a provocar uma inflacção no mercado. Faz subir os preços e torna difícil a fixação de novas famílias”, alertou o vereador, defendendo que o município deve reflectir e procurar soluções para este problema.

Nesta reunião foi aprovado, com a abstenção do PCP e o voto favorável de todas as outras forças políticas, o pedido de licenciamento (apresentado pela Estamo) para a construção de um edifício para a instalação de uma residência de estudantes, no Largo do Intendente Pina Manique. António Costa anunciou que este equipamento vai ser explorado pela Universidade de Lisboa, e defendeu que será “uma âncora muito sólida” para o desenvolvimento da Mouraria e “o maior choque vitamínico que pode ter a Rua do Benformoso”.

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