Alunos da Soares dos Reis contra regime de acesso ao ensino superior

Os alunos estão contra os exames obrigatórios de Português e Filosofia.

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Luís Efigénio/nfactos

Alguns alunos da Escola Artística Soares dos Reis, no Porto, concentraram-se nesta sexta-feira em frente à instituição numa manifestação direccionada especialmente contra os exames de acesso à universidade. Pedem que as notas do curso façam média com as notas dos exames.

Os alunos aproveitaram o intervalo de 20 minutos para manifestar o desagrado com a situação actual do ensino artístico. Saíram da escola enquanto alguns tocavam bombos e outros sopravam apitos e seguravam panos pretos com frases como “Não queremos pagar os materiais que nos têm de dar” ou “Para quê três anos de estudo, se duas horas de exames definem tudo?”.

"Nos outros sítios, a avaliação pontual a Português e Filosofia faz média com os exames. Aqui não: passamos três anos a fazer a avaliação pontual para depois não fazer média com a avaliação externa", diz Alexandra Neves, uma das organizadoras do protesto.

O director da Soares dos Reis, António Martins Teixeira refere já ter pressionado o Ministério da Educação quanto à avaliação, não compreendendo porque é que os exames de Português e Filosofia passaram a ser obrigatórios visto que a “Prova de Aptidão Artística é em tudo semelhante a um exame” e, assim, os alunos ficam mais sobrecarregados. No entanto, a abolição dos exames não é a medida ansiada e sugere-se que os exames obrigatórios passem a ser História da Arte, Geometria Descritiva ou Desenho, disciplinas mais relacionadas com o curso.

O director sublinhou ainda que, "desde há dois anos, o peso dos exames nacionais no ensino artístico especializado é muito superior ao que acontece nos cursos científico-humanísticos de artes visuais, por exemplo. As provas de aptidão artística diluem-se por força do peso dos exames".

As reivindicações por alterações no modelo de avaliação não são novas e, em relação aos exames, a luta tem-se feito em conjunto com a Escola António Arroio, em Lisboa, por se considerar que o método de cálculo dos exames prejudica os alunos.

Mas se os estudantes são unânimes nas críticas aos exames e concordam entre si quando se fala numa valorização da Prova de Aptidão Artística e do regime de avaliação que pretendem que seja contínuo, já discordam quanto às outras razões evocadas pelos organizadores do protesto, a que muitos estudantes não se associaram.

Um dos temas que não reuniu consenso foi o dos materiais. Se por um lado há quem considere que todos os materiais deveriam ser gratuitos por se tratar do ensino público - tanto mais que alguns são caros, afectando negativamente os orçamentos familiares - há também quem apele à igualdade por considerarem que não podem deixar de pagar os materiais apenas por frequentarem uma escola artística quando todos os outros alunos de artes, noutros estabelecimentos, têm de os pagar. E adiantam que os preços dos materiais praticados na Soares dos Reis são acessíveis e bastante mais reduzidos do que os das papelarias dos arredores.

Jorge Ramos, presidente da associação de estudantes, sublinhou que “todas as áreas de aprendizagem estão equipadas com os devidos materiais” e salienta que a escola “faz os possíveis para dar uma ajuda aos casos mais problemáticos”.

Alberto Martins Teixeira adianta que as alterações nos orçamentos do ministério abrangeram todas as instituições de ensino mas que, mesmo assim, “não houve da parte da escola um corte nos materiais por questões económicas”, visto que os directores das oficinas de trabalho “têm feito os seus pedidos de materiais para o ano inteiro que têm sido sempre comprados e fornecidos aos alunos”. José António Fundo, outro membro da direcção, refere que a instituição tem feito “um grande esforço para reduzir ao máximo possível o investimento dos alunos em materiais consumíveis”.

Também não pensam todos da mesma forma quando o tema é os preços dos transportes, havendo quem considere que não deviam ter de pagar as deslocações até à escola. Apesar de lamentar que os alunos que vinham de mais longe, como Trás-os-Montes e Guimarães, tenham deixado de frequentar a escola, Alberto Martins Teixeira afirma que “a escola tem um grupo de coesão social que tenta, de alguma maneira, ajudar os alunos mais carenciados”, que já ajudou cerca de 30 alunos.

A manifestação desta sexta-feira foi organizada sem contactar a direcção da escola nem a Associação de Estudantes. Os alunos prevêem que uma nova marcha se realize a 18 de Março.

Texto editado por Ana Fernandes

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