O primeiro comboio alfa pendular a totalizar quatro milhões de quilómetros percorridos saiu de Santa Apolónia às 20h desta quinta-feira e tinha a chegada ao Porto prevista para as 22h52. O quadrimilionésimo quilómetro foi atingido algures entre Espinho e Gaia, por volta das 22h40, se o comboio tiver ido à tabela.

Este valor é conhecido porque a EMEF, a empresa de manutenção da CP, tem monitorizados todos os quilómetros percorridos pelas dez unidades que compõem a frota de alfa pendulares da empresa.

Designado CPA4003, este comboio entrou ao serviço em 1999 e, por um mero acaso devido às rotações de material, é o que tem mais quilómetros percorridos. Nos próximos dias os restantes pendulares deverão, também, chegar aos quatro milhões de quilómetros.

O que faz deste número um quase case study é o facto de o comboio não ter sido ainda alvo de uma revisão geral. Segundo o manual de instruções do fabricante, os motores de tracção dos alfa pendulares deveriam ter sido sujeitos a uma revisão de meia vida quando perfizessem 1,8 milhões de quilómetros.

Mas a equipa da EMEF que cuida dos pendulares criou uma filosofia de manutenção — inspirada na aeronáutica — que conseguiu aumentar a vida útil dos equipamentos sem necessidade de imobilizar as composições durante semanas para uma revisão geral.

Esse método, denominado RCM (Reliability Centered Maintenance), procura não só reparar avarias, como também encontrar as causas para que não se repitam. Suscitou já o interesse dos exigentes especialistas dos caminhos-de-ferro suíços que adoptaram o mesmo método.

Desde a sua entrada em circulação, os comboios alfa pendular já transportaram mais de 23.725.000 de passageiros e são a imagem de marca da CP.

Capazes de circular a 220 Km/hora, só aproveitam integralmente essa possibilidade em alguns troços da linha do Norte e da linha do Sul, porque o principal eixo ferroviário português não está ainda totalmente modernizado.

O tempo de viagem entre Lisboa e Porto demora 2h44 e dificilmente será reduzido se não houver intervenção na via, sobretudo no troço entre Ovar e Gaia, em que a linha está em péssimo estado e onde, paradoxalmente, o CPA4003 atingiu hoje os quatro milhões de quilómetros.

Ainda assim, inquéritos realizados pela CP provam que os clientes valorizam mais o conforto do que a velocidade, sendo essa uma das razões do sucesso comercial dos pendulares.

Estes comboios circulam no eixo Braga-Faro e chamam-se pendulares devido à possibilidade de se poderem inclinar nas curvas (tal como as motos) em vez de reduzirem a velocidade.

Em 2015, e apesar dos esforços da EMEF para lhes prolongar o tempo de vida, serão, progressivamente, imobilizados para sofrerem a revisão da meia vida, reaparecendo ao público com nova pintura exterior e um interior totalmente remodelado.