Nas últimas semanas, vários moradores do Porto têm recebido telefonemas de uma empresa que pretende marcar uma visita às suas casas para testar a qualidade da água. Quando os consumidores recusam a visita, a pessoa que efectua a chamada “invoca o nome da Águas do Porto, ameaçando-os de que irão receber uma intimação”, refere a empresa municipal num comunicado denunciando o caso e em que garante não ter qualquer responsabilidade nestes contactos, imputando-os a “uma empresa que comercializa sistemas ‘purificadores’ de água”.

O esquema não é novo e pelo menos desde há uma década que há registo de queixas de consumidores que se dizem intimidados por empresas que, recorrendo a técnicas agressivas, os tentam convencer a comprar equipamentos que, alegam, irão purificar a água das torneiras, evitando assim graves problemas de saúde. Há registos de casos deste género, em 2005, em Matosinhos ou na Maia, em 2010 em Cascais, ou já este ano em Viana do Castelo. Agora, a situação parece ter chegado ao Porto, sem que o modo de actuação tenha mudado muito.

Os consumidores são contactados pelo telefone, por alguém que diz pertencer a uma empresa que pretende fazer um teste à qualidade da água que sai das torneiras da casa da pessoa contactada, tentando marcar uma visita presencial. Aí, um conjunto de “testes” é realizado, que, supostamente, prova a má qualidade da água pública – problema que só será resolvido com a aquisição dos produtos (filtros e purificadores) vendidos pela empresa.

No Porto o caso terá assumido uma nova nuance quando, segundo o comunicado das Águas do Porto, perante a recusa dos moradores em receber os funcionários da empresa, estes são ameaçados com uma suposta “intimação”, que será feita pela própria empresa municipal. O resultado foi um conjunto de telefonemas de moradores para as Águas do Porto “para confirmar se é esta empresa municipal que está a promover estas campanhas de marketing agressivas com recurso à intimidação”, lê-se no comunicado da empresa pública. “A Águas do Porto não procede nem nunca procedeu desta forma para realizar análises à água dos consumidores”, garante a empresa no mesmo documento.

A empresa municipal garante ainda que as análises efectuadas à rede pública – 4071 em 2014 – indicam que “em 99,7% dos casos [a] água [é] de excelente qualidade”.

O comunicado chama ainda a atenção para um outro documento, emitido pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), que diz mesmo que a água filtrada pelos aparelhos vendidos por estas empresas tem “carência em sais minerais dissolvidos e não [é] aconselhável ao consumo humano”. O comunicado da APDA garante que a água distribuída pelas entidades que fazem parte da associação, e que incluem a Águas do Porto, “não deve ser sujeita a qualquer tratamento adicional, efectuado por conta e risco de cada consumidor, uma vez que a mesma é devidamente controlada e adequada para consumo humano”.