Local de captação da água de Beja vai ser mudado para melhorar a qualidade

Águas do Alentejo diz que ponderará o aumento das reservas só para o ano. Para já foi resolvido mudar o local da captação.

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A empresa Águas Públicas do Alentejo (AgdA) afirma que a má qualidade da água bruta da barragem do Roxo se deve à actual “situação climatérica” e ao abaixamento do nível de albufeira, mas diz que “só para o ano” será avaliada a necessidade de um “eventual reforço do volume armazenado”. Para reduzir os problemas com o sabor a terra e o cheiro a mofo da água que abastece Beja e Aljustrel foi agora resolvido captá-la mais longe da margem.

A decisão de reforçar o volume de água armazenada será tomada em 2016, “em função do ano hidrológico” que se inicia a 1 de Outubro “e dos níveis que a albufeira apresentar” assume a AgdA em esclarecimentos prestados ao PÚBLICO. 

Se os consumos se mantiverem “dentro dos valores que se têm verificado no passado recente (...) não haverá falta de água, em termos de quantidade, para as utilizações usuais” durante este ano, garante a empresa responsável pelo fornecimento de água a cerca de 45 mil habitantes de Beja e Aljustrel, sem fazer qualquer referência à qualidade.

Reagindo às críticas da população, a Empresa Municipal de Água e Saneamento (EMAS) de Beja revelou, por seu lado, ter detectado alterações nas características organolépticas da água “em Setembro de 2014”. Nessa altura solicitou à AgdA que fossem feitas as “devidas correcções” no processo de tratamento, mas “lamentavelmente não foram tomadas” quaisquer medidas, assegura a empresa municipal.

As forças políticas opositoras nos dois concelhos servidos pela captação do Roxo já tomaram posição pública.

O PS, em Beja, manifestou-se contra “ o cheiro desagradável, o sabor estranho e a água por vezes turva”, acrescentando que a confiança nos serviços prestados pela EMAS “está fortemente abalada.” O executivo municipal de Beja, de maioria CDU, é igualmente visado pelos vereadores socialistas pelas respostas “vagas e pouco consistentes” que lhes tem facultado.

Nelson Brito, presidente da Câmara de Aljustrel (PS), quando foi instado pelo PÚBLICO a esclarecer a sua posição sobre a qualidade da água que chega às torneiras, socorreu-se de um comunicado que AgdA divulgou a 5 de Agosto. Quando lhe foi pedida uma posição da autarquia, foi lacónico na resposta: “O presidente não prestará mais declarações sobre este tema.” 

Os vereadores comunistas no executivo de Aljustrel exigem, por sua vez, o “reforço urgente” do armazenamento da albufeira do Roxo com um “acréscimo significativo” de água para a melhoria da sua qualidade, por não estarem garantidos, neste momento, os seus parâmetros organolépticos.

Mas para ter mais água na albufeira é preciso que a AgdA esteja interessada e que a Associação de Beneficiários do Roxo (Abroxo), a única entidade com competência para o fazer, solicite à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) o reforço da reserva. António Parreira, presidente da Abroxo, disse ao PÚBLICO que a AgdA nunca lhe fez uma tal solicitação. E mesmo que o faça, salientou, tem de garantir o pagamento do volume de água de que necessita, pois, de outra forma, “são os agricultores a pagá-la”.

Sobre este ponto o presidente da AgdA já tinha afirmado, em 2013, que se a empresa for forçada a suportar os encargos com o pagamento da água bruta, estes “vão reflectir-se na factura a cobrar aos consumidores”. A Abroxo e a AgdA mantêm, desde 2010, um contencioso que irá ser dirimido em tribunal. A primeira entidade reclama da segunda o pagamento de uma dívida que ascenderá a “um milhão de euros”, observa António Parreira. 

A Câmara de Beja tem, por sua vez, uma dívida à AgdA de 2,6 milhões de euros, enquanto que o município de Aljustrel já acordou o pagamento faseado dda sua dívida à mesma entidade, que “ascenderá aos 800 mil euros”, referiu um dos vereadores da CDU. O porta-voz do município confirmou já ter sido acordado o pagamento, mas recusou-se a adiantar montantes.

Subsiste ainda outra dificuldade que poderá vir a impedir o reforço da albufeira do Roxo. A EDIA está a proceder a obras na barragem do Penedrão, que fornece água àquela barragem e, segundo algumas fontes, uma eventual descarga só é viável até ao final do mês de Agosto. Depois desta data, só em Março/Abril do próximo ano, é que o sistema estará operacional.

Questionada a EDIA, a empresa confirmou que há obras a decorrer naquela estrutura, mas que, “neste momento”, está em condições de garantir o reforço de água de Alqueva para a barragem do Roxo, escusando-se a adiantar se o poderá fazer depois do final de Agosto.

Captação muda de local
Entretanto, num comunicado enviado esta terça-feira à tarde à agência Lusa, o Grupo de Acompanhamento da Qualidade da Água da albufeira anunciou que a água vai começar a ser captada, nos “próximos dias”, num local “mais afastado da margem”, onde tem mais qualidade. Este grupo, constituído por várias entidades públicas que estão a acompanhar o problema revelou que a alteração do local de captação foi uma das medidas decididas numa reunião realizada em Beja, na segunda-feira.

O grupo, tal como a AgdA já tinha garantido na semana passada, e frisou agora, que os resultados das análises à água mostram “o cumprimento dos parâmetros de qualidade exigidos pela legislação aplicável”.  “O consumo desta água não constitui risco para a saúde pública, conforme parecer da Autoridade de Saúde Pública”, mas “serão mantidos os apertados controlos analíticos”, para “assegurar uma permanente vigilância da sua qualidade”, refere o comunicado.

“Foi ainda reconhecido que as medidas de curto prazo que estão a ser tomadas não substituem a necessidade de uma remodelação mais profunda da ETA do Roxo”, realça o grupo, explicando que também “não foi considerado eficaz, no presente contexto, efectuar um reforço dos níveis de armazenamento” do Roxo a partir do sistema do Alqueva”.

Num outro comunicado conjunto divulgado esta terça-feira, as câmaras de Beja e Aljustrel reclamaram a “intervenção célere” da AgdA na Estação de Tratamento de Águas do Roxo e a adopção de “medidas correctivas” no processo de captação e tratamento da água.

 

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