Abertura de barra deixa peixes mortos nas margens da ribeira de Alcantarilha

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Ambientalistas não encontram explicação para a poluição observada na ribeira Foto: DR

Os trabalhos não foram feitos em Agosto para que os turistas não vissem os efluentes poluídos a escorrer para o mar. Pescadores acham que acção já vem tarde para algumas espécies.

A Administração da Região Hidrográfica do Algarve mandou abrir, durante este fim-de-semana, a barra que liga a ribeira de Alcantarilha ao mar, para soltar peixes e águas poluídas retidas na lagoa que se forma atrás das dunas. "O rio está morto", constata David Lamy, membro da Associação de Pescadores de Armação de Pêra, atribuindo esse facto a um alegado deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).

Tânia Oliveira, que trabalha na pesca com o marido, testemunhou várias peixes mortos nas margens, mas também assistiu à viagem de cardumes de algumas espécies em direcção ao oceano. "Não se viu nem uma enguia. Em criança ia à pesca com o meu pai e, em meia hora, apanhava um balde de enguias, mas agora desapareceram", conta. Sargos, linguados e pargos encontram na ribeira um lugar privilegiado para o crescimento.

A abertura da barra não é contestada pelos pescadores, pelo contrário, é considerada "fundamental" para permitir que a lagoa funcione como maternidade. "A poluição é que é um crime", enfatiza Tânia Oliveira, reclamando "uma manutenção permanente para manter a barra aberta". As críticas dirigidas às entidades com responsabilidade na área do domínio marítimo dizem respeito ao facto de a obra só se ter realizado depois de passar a época alta do turismo. Quando se deu a "mortandade", em Agosto passado, queixa-se de que não lhes "quiseram dar ouvidos": "Recusaram abrir a barra, alegando que prejudicava o turismo." Mas neste fim-de-semana a praia voltou a encher-se. "E os banhistas tiveram oportunidade de ver gaivotas e peixes mortos nas margens."

Diferentes leituras

João Ministro, da associação Almargem, faz uma leitura diferente da situação. "Não há razão para as águas estarem poluídas, pois a zona é servida pela nova ETAR intermunicipal." De resto, explica o dirigente ambientalista, é essa infra-estrutura que "garante os caudais mínimos na lagoa dos Salgados [a cerca de três quilómetros de distância], garantido a vida nessa zona húmida, uma condição imposta pelo estudo de impacto ambiental".

Os pescadores em Armação de Pêra têm dúvidas de que as águas da ribeira de Alcantarilha estejam em boas condições. "Esta ribeira é uma sanita", reclama Tânia Oliveira, que questiona: "Se tudo funciona bem, porque morrem os peixes?"

David Lamy considera positiva a abertura da barra, mas acrescenta que não foi realizada na melhor altura. "Com o mar de fora, a forte ondulação fecha a barra de um dia para o outro e é o que já se está a ver."

Armação de Pêra vive da pesca e do turismo, com uma forte dependência do sector imobiliário e da construção civil. O PÚBLICO não conseguiu contactar ontem o presidente da junta de freguesia, Fernando Santiago, mas o autarca defendeu, em Agosto, citado pelo Correio da Manhã, que a forma de ultrapassar os problemas da zona seria a construção de uma doca turística na ribeira de Alcantarilha. O projecto é antigo, mas com a abertura da marina na Albufeira, ali ao lado, a ambição da autarquia esmoreceu.

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