À Moda Antiga: uma viagem pelo tempo e por Portugal

Viver fora do país é ver com clareza o que de bom o país tem. Joana e Filipe Maia regressaram e abriram em Viana do Castelo um espaço de produtos tradicionais portugueses, que funciona também como bistrô e lugar de exposições

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Renato Cruz Santos

Foi quando emigraram para a Austrália, após quatro anos a viver em Angola, que Joana e Filipe Maia perceberam como Portugal lhes fazia falta. Ou antes: como a falta de História e de identidade de um país pode transformar-se num “grande vazio”. Foi com esse sentimento (e com a vontade de ter filhos) que regressaram ao país em 2010, “sem casa, sem carro e sem emprego, em plena crise”.

E foi com essa mesma justificação que, três anos depois, transformaram uma antiga loja de ferragens de 1920 num espaço que é uma verdadeira viagem pelo tempo — e pela cultura de um país. À Moda Antiga Retro Market & Bistro, aberta desde Novembro de 2013 em Viana do Castelo, é uma loja "vintage" cheia de produtos tradicionais portugueses, com um espaço de exposições e um cantinho bistrô.

“Começamos a juntar o puzzle, a nossa vida é um puzzle. E acabamos por criar esta loja”, resumiu Joana durante uma conversa feita à mesa do bistrô e que havia de durar duas horas. 

Virada para a marina de Viana do Castelo, a loja deste casal de engenheiros civis — dirigida sobretudo por Joana, já que o marido continua a dedicar-se à empresa que criaram quando voltaram ao país — foi desenhada “do local para o nacional”. 

Viana — Norte — Portugal

Por isso, encontram-se por lá vários produtos vianenses, como os chocolates Imperador, sabonetes artesanais, chás e infusões, os cadernos da Vida Retro ou os azulejos pintados à mão pela artista local Isabel Pinolo.

Mas também vários do Norte (a segunda prioridade) e do resto do país: biscoitos de Monção, água e biscoitos de Melgaço, funilaria de Barcelos, sabonetes da Ach Brito (Porto) da Confiança (Braga), compotas feitas por monjas de Roriz, em Santo Tirso, biscoitos da Puapério, louça de Caldas da Rainha, cestas de Alcobaça, mantas 100% lã da Serra da Estrela, figos de Moncorvo, chá dos Açores, chocolate Equador, conservas Tricana, colónias Musk, cerveja artesanal Letra, brinquedos antigos, marcadores de livros...

A lista é grande e cresce numa equação directamente proporcional às viagens — reais e cibernáuticas — que Joana Maia faz para descobrir “produtos que transmitam algo e tenham qualidade máxima”. “Passo horas e horas à procura, no backstage dos produtos. É exaustivo às vezes”, suspira com um sorriso.

O primeiro produto que decidiram que tinha de fazer parte da À Moda Antiga foi, na verdade, a bicicleta. “A ideia surgiu com as bicicletas e depois começamos a juntar a informação que tínhamos adquirido de todos os sítios onde estivemos no mundo”, contou. 

Joana tinha-se apaixonado pelo veículo de duas rodas quando estudou em Milão, em Itália; Luís sempre se interessou por “tudo o que fosse clássico”. E desta mistura surgiram na loja as históricas e clássicas pasteleiras que geralmente brindam os visitantes na entrada do espaço.

A ideia é que os veículos possam não só ser comprados mas também alugados. E além das pasteleiras há também bicicletas inglesas e italianas e as famosas vespas.

Uma esplanada no Verão

No Verão, o Largo João Tomás da Costa vai contar também com uma esplanada, para estender o serviço bistrô que se serve agora no fundo da loja, com uma cozinha “show cook” e num local que já funcionou como depósito de carvão e onde as paredes ainda estão pretas.

O café-restaurante funciona das 9 às 19h (almoços tardios são possíveis), com menus de seis euros (sopa, prato e bebida) e 4,5 euros (sopa, sande e bebida). São considerados “imperdíveis”, segundo os donos da loja, especialidades como cogumelos Portobello recheados com salmão fumado e queijo da ilha gratinado, para prato principal, e muxama de atum (considerado “o presunto dos mares”), como entrada.

Na À Moda Antiga há também espaço para exposições, que mudam de tempos a tempos (a mais recente é do ilustrador Joel Torres) e têm o mesmo objectivo da loja: a divulgação cultural.

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