A “lata” de Beja vai abaixo mas PS quer que assunto seja alvo de referendo

A cidade dividiu-se no apoio à demolição do depósito de água construído em 1942. A autarquia alega que a estrutura está em “risco iminente” de ruir no meio de um fórum romano.

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A silhueta do depósito de água destaca-se nas imagens da cidade Pedro Cunha/arquivo

Respondendo à pergunta colocada na penúltima reunião do executivo municipal de 7 de Outubro pela oposição socialista sobre o destino que iria ser dado ao depósito de água erguido em 1942, bem no interior do fórum romano de Beja, recentemente descoberto, o presidente da autarquia (CDU), João Rocha, foi telegráfico e peremptório: “vai abaixo”.

A oposição socialista pediu mais pormenores sobre as razões que sustentam a decisão e o autarca explicou que a estrutura com cerca de 30 metros de altura “está na iminência de ruir por deterioração do betão”.

O debate sobre a demolição do depósito passou a prioridade nas redes sociais, dividindo as opiniões dos cidadãos de Beja e tornando pertinente o esclarecimento que Paulo Arsénio, presidente da concelhia do PS, diz não ter acontecido “até ao momento”. O dirigente socialista lamenta que a população não esteja informada “sobre os custos, as vantagens, as alternativas técnicas ao abastecimento de água na zona mais elevada da cidade e as próprias alternativas à demolição”, referindo que a opção “dá como adquirido que é a melhor” para valorizar o espaço onde a estrutura está inserida.

Assim, e “para evitar uma decisão precipitada” Paulo Arsénio diz que o PS vai apresentar na próxima reunião da Assembleia Municipal, em Dezembro, uma proposta de realização de um “referendo municipal” para que a população tenha oportunidade de se pronunciar sobre uma questão “que lhes diz respeito”, frisando que existe fundamento legal para a consulta.  

Erguido no interior do fórum romano de Beja, que escavações recentes vieram a expor à luz do dia, a demolição do depósito de água obriga a cuidados especiais, mas João Rocha garante que os vestígios romanos, muçulmanos, medievais e modernos que se interligam numa área que terá cinco mil metros quadrados “não serão colocados em risco”. Disse ainda não saber quando é que a demolição da “lata” de Beja vai ocorrer, mas adiantou que vai custar cerca de 300 mil euros, sensivelmente o mesmo valor que o anterior executivo socialista anunciou que iria ser investido na recuperação da estrutura que passaria a ter um miradouro público e até um restaurante panorâmico.

Sobre a origem da verba para pagar a demolição, o presidente da Câmara disse aos vereadores socialistas no executivo municipal que “o dinheiro virá do Quadro Comunitário de Apoio e do orçamento da câmara.”

Entretanto, a Câmara de Beja já fez a distribuição de um folheto com depoimentos dos arqueólogos Cláudio Torres, Conceição Lopes e Susana Correia e do director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, José António Falcão, a defender a demolição do depósito de água construído há 73 anos e do presidente da Associação de Defesa do Património de Beja, Florival Baioa a propor a sua manutenção e recuperação.

A população de Beja chamava ao “monstro de betão a lata ou a latinha” por marcar a silhueta da cidade que, até 1942, era dominada pela “sombra esguia e imponente da torre de menagem” do castelo de Beja, recorda Cláudio Torres. Florival Baiôa defende que a estrutura deve ser sujeita a obras de consolidação e “permanecer como património visual da cidade” por ter sido interpretado como “o símbolo visível numa cidade que ainda não possuía água canalizada” quando foi construído.

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