A Feira do Livro do Porto e a Poetria

O Porto é granítico. Romântico.

Granítico que é sólido nas ideias democráticas, firme nas convicções éticas, seguro nas vontades do presente e futuro. É Portucale!

Romântico que é poeta, literato, das artes da Casa da Música, de Serralves, do Rivoli. De Rui Veloso, de Sérgio Godinho, de Rui Reininho e de tantos, tantos outros!

É generoso e ingénuo, como os poetas e os seres das artes e da música!

Acerta pouco ou nada nos dirigentes que elege!

Notáveis que lutam em inúteis abaixo-assinados!!!

Abaixo-assinado!!!

Choramingam abaixo-assinados, acusam, com provincianismo, o abuso do poder do Terreiro do Paço, mas incapazes de mobilizar e envolver a cidade na luta.

O Porto merece dirigentes que o mobilizem no trabalho, na busca dele para quem o não tem, na habitação e (meu Deus!), na Cultura!

Não mobilizam pois imaginam que é tema só de líderes, de quem manda, não do povo.

Falemos de Cultura e Poesia que são da cidade, com e apesar dos líderes inúteis, impotentes e incompetentes!

A Feira do Livro, ali à Avenida dos Aliados, à Rotunda da Boavista, ao Pavilhão Rosa Mota!

Morta, por certidão de óbito, não certificada apenas pelo comércio, mas também pelo desinteresse, inacção e falta de cultura de quem manda no dinheiro e na política.

Morta com mais de 80 anos, já com barbas no calendário, mas não nas ideias, no pensamento, no sentimento popular.

Esta gente só vê euros.

Ao fim de mais de 80 anos, uma manifestação popular de cultura, de convívio e alegria, é subtraída ao povo do Porto por gentinha aculta e inculta para quem os valores se restringem à austeridade…Para os outros, claro. Gentinha que habita, em primeiro lugar, no edifício sumptuoso ao cimo da lindíssima Avenida dos Aliados. Aliados também da cultura e não do espectáculo circense dos carrinhos em desvario, Avenida da Boavista abaixo. Mas esquece uma das funções e competências que a lei lhes comete: a promoção da cultura e lúdica do munícipe, do povo!

Mas, como disse e escreveu Manuel Alegre, há sempre alguém que, sendo embora pobre, resista. Ali, na Rua das Oliveiras, a Poetria, uma pequena livraria faz uma Grande Feira de Livros, que o poder se dispensou de fazer! Tem de tudo, desde Fernando Pessoa, a Al Berto, Sofia de Mello Breyner, Eça e muitos outros. A bons preços. De Feira do Livro.

São poucos metros acanhados, onde mal cabem dois leitores. A cultura, em maiúsculas, não exige espaço: cabe e tem lugar em todo o sítio, pequeno, grande, ou sem espaço nenhum. Está na vida do nosso quotidiano, sobretudo no tempo difícil que é o nosso.

A poesia está em nós, a Poetria sabe isso. A Poetria e outros na cidade promovem as artes, a poesia. Mas não o faz num evento (???) de lançamento da “sociedade”, actua regularmente, sem convite. Faz pelas artes!

Já não somos a terra de Camões, de Eça e de Vieira da Silva, antes do banco de Portugal, do Banco Europeu e do FMI.

Portugal já não é das artes, da poesia, da literatura, do pensamento. É um país pobre, sem artes, assim também sem salários e vencimentos morais, éticos que são os “dinheiros” do pensamento!

Portugal chora, sem cultura e, em consequência, sem dinheiro!

Quando é que “eles” encaixam isto?
 

Procurador-geral adjunto

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