A desistência da mobilidade eléctrica em Lisboa

Não basta hastear boas bandeiras para de seguida desistir silenciosamente.

Portugal, em geral, e a cidade de Lisboa, em particular, têm sido pioneiros na procura e no desenvolvimento de novos modelos energéticos para a mobilidade, que visam melhorar a qualidade de vida das cidades, dos seus habitantes e dos seus visitantes. Os veículos eléctricos são, cada vez mais, "o rosto" deste novo paradigma, e o município de Lisboa foi, e bem, pioneiro neste campo, tendo já um número considerável de veículos eléctricos na sua frota automóvel.

Todos conhecemos a ênfase colocada no carro eléctrico pelo anterior primeiro-ministro, que se fez deslocar por diversas vezes num destes modelos, e cujo exemplo foi seguido pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, até durante a sua campanha eleitoral.

Para que esta solução possa agora estender-se aos automobilistas em geral, e conhecida que é a ainda reduzida autonomia da generalidade dos veículos eléctricos, é necessária uma rede estruturada e funcional de postos de carregamento localizados em garagens particulares, parques de estacionamento públicos, parques de estacionamento dos centros comerciais, hotéis, aeroportos, bombas de gasolina e na via pública.

O município de Lisboa aderiu à rede gerida pela empresa MOBI.E em projecto-piloto e os postos de abastecimento rápido são hoje visíveis em diversas zonas da cidade, tendo sido reservados lugares de paragem na via pública, especificamente destinados ao carregamento destes veículos.

No entanto, é notória a falta de manutenção desta rede, com muitos postos de abastecimento eléctricos na cidade de Lisboa em mau estado de conservação, vandalizados, avariados ou mesmo desligados. Mais, para agravar, os lugares reservados para o carregamento de veículos eléctricos estão recorrentemente ocupados por outro tipo de veículos, em estacionamento abusivo e ilegal, que inviabilizam o carregamento das viaturas eléctricas.

Sucede que muito deste estacionamento abusivo é da exclusiva responsabilidade do município, que não colocou a sinalização vertical adequada junto aos postos de abastecimento, reservando estes lugares para o efeito devido, ou noutros casos a mandou mesmo retirar, num sinal inequívoco de desistência que caracteriza vezes de mais a acção política em Lisboa. Mais grave ainda é que esta lacuna de sinalização inviabiliza as acções de fiscalização por parte das entidades competentes.

A compra de um automóvel novo é sempre uma decisão ponderada, pelo seu elevado valor, em função da necessidade e da fiabilidade. Para que o automóvel eléctrico possa ser percepcionado como um investimento aceitável pela generalidade das pessoas, é necessário que a rede de postos de carregamento permita o planeamento dos trajectos e garanta aos seus utilizadores a possibilidade de abastecimento em lugares devidamente sinalizados e reservados para este efeito.

Não basta hastear boas bandeiras para de seguida desistir silenciosamente. É preciso recordar que o Dr. António Costa tem o pelouro da Mobilidade e que esta rede foi uma decisão sua e que cabe à Câmara Municipal de Lisboa articular com a empresa MOBI.E o reforço e a manutenção dos postos de abastecimento eléctrico existentes na via pública, bem como colocar a sinalização adequada nos locais onde a mesma ainda não exista, identificando os locais reservados ao abastecimento de veículos eléctricos na via pública, e permitindo a sua fiscalização.

Enquanto assim não for, a Câmara Municipal de Lisboa não estará a contribuir para a viabilização da viatura eléctrica enquanto alternativa credível e sustentável.

Vereador na Câmara Municipal de Lisboa, deputado do CDS-PP

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