Gosto do Príncipe Real e do céu azul de Lisboa

Gosto do Príncipe Real sobre o Tejo. Aí vivi muitos anos. Do céu azul de Lisboa. Sophie, parisiense de alma e corpo, escultural e viajada, diz nunca ter visto um céu tão bonito e azul como o de Lisboa. Amar, amar, é o Porto.

Onde nasci e vivo. Sólido de ideias liberais. Destas, falam bairros populares, becos, ruas, avenidas e praças. D. Pedro IV, líder da revolução. Vive no Brasil, deixou o coração na Igreja da Lapa. Ferreira Borges, seu Código Comercial. Habita o cemitério daquela. Mouzinho da Silveira, estadista, legislador. Funda o Supremo Tribunal de Justiça.

Os seus escritores e poetas. Almeida Garrett, As Viagens na Minha Terra, Camilo Castelo Branco, O Amor de Perdição. Sofia de Mello Breyner e o Mar Novo, Eugénio de Andrade, Os Afluentes do Silêncio. Os músicos. Sérgio Godinho, Vivemos tantos anos a falar pela calada, Rui Reininho, Voos Domésticos. Rui Veloso e Jardel a Voar sobre os centrais. A maratona. Sonho de Rosa Mota. Palácio de Cristal.

Monumentos que guardam história. A Igreja de Santa Clara. Barroca. Lindíssima. Tão descuidada. A de São Francisco, mais cá em baixo, junto ao rio e ao belo edifício da Alfândega. A Torre dos Clérigos. Sineira. 240 degraus. Alta, lá em cima, a vigiar e mostrar a cidade. Obra do arquitecto italiano Nicolau Nasoni. A Pousada do Freixo. De Nasoni. Sobre o Douro a espreitar, de longe, a Serra do Pilar, na margem esquerda.

O mercado do povo. Mercado do Bolhão. Abandonado pela incompetência e incultura ostensivas do poder autárquico. No coração da cidade.

Das festas do povo. São João. De centenas de milhares de gentes que vagueiam  noite inteira. Sem destino. Alho-porro, martelinhos, sardinha assada. Fogo-de-artifício. Amores proibidos madrugada dentro nas Fontainhas. Sobre o Douro. Gosto do Futebol Clube do Porto (o FCP!). Suas vitórias. Amargas derrotas. Não dos “negócios”. Só da bola. No tapete verde. A pulular nas chuteiras de heróis fardados de azul e branco às riscas.

Gosto do Tejo! Sua grandeza. Namoro e amo o Douro vindo de Espanha. Alcantilado. Tantas vezes, nutro solilóquios com ele. Diálogos se está para isso. Vem por ali abaixo. Vence tudo. Montanhas. Montes. Pontes. Cá muito em baixo, invade o mar. Na Foz do Douro. À direita, abraça o Jardim da Foz do Douro. Olha o escritor, poeta e político, Raul Brandão. Os obeliscos e fontanário de Nasoni. As casas em castelinho lá em cima. A Foz é dos sítios mais belos de Portugal. Para trás, na margem esquerda, ficou a Afurada. Logo depois da Ponte da Arrábida. Terra de gente que luta e morre no mar. Festeja anualmente São Pedro. Dias e dias. Da cidade e da ponte é uma cascata de luzinhas. Nas festas, o povo gasta muito. Bem gasto que é para o Santo. Povo vive de festas a santos. Reza a São Pedro. Que proteja meu homem e filho (s) no alto mar. O Santo ouve. Vergado de tanta reza, cansado, fica surdo muitas vezes.

Encostada à Afurada, a Marina de Canidelo. Para os de Canidelo. Da Afurada para os da Afurada. Impossível descrevê-la. E talento? Iates e veleiros de gente rica. De quem havia de ser? Quase a colar no mar. A serenidade do Douro quando calmo, a fúria quando possesso, encantam. Tanto rio, mais adiante, tanto e tanto mar. A Marina fica ali. Com a esplanada tranquila do  Marina Caffé. Pode namorar-se o Douro e o mar. E o Porto.

Goze Lisboa e o Tejo. O Porto e o Douro.

Procurador-Geral Adjunto

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