Porto aposta no turismo especializado em arquitectura contemporânea

Rede europeia de arquitectos-guias reuniu-se na área metropolitana para debater os desafios de um sector em expansão

Há cada vez mais pessoas interessadas num subproduto do turismo cultural: as viagens dedicadas à arquitectura contemporânea, um sector que está a crescer e encontra no Porto um terreno especialmente fértil. Esta é, pelo menos, a opinião da alemã Anneke Bokern, responsável pela rede europeia Guiding-Architects (www.guiding-architects.net), uma organização que agrega 14 empresas especializadas neste tipo de oferta turística. Cerca de 25 participantes estrangeiros estiveram nos dois últimos dias no Porto, cidade anfitriã do sétimo encontro da associação, para discutir o futuro e os desafios deste nicho de mercado. "Estamos a trocar experiências para pensarmos qual é melhor maneira de nos articularmos. Afinal, os nossos clientes são mais ou menos os mesmos", afirmou ao PÚBLICO João Paulo Correia, sócio da Cultour juntamente com as arquitectas Cristina Emília Silva e Conceição Melo. A empresa criada há dois anos passou a integrar a Guiding-Architects em 2006 e, desde então, colocou o Porto no mapa do turismo especializado em arquitectura. Segundo o responsável, até então havia apenas iniciativas de fundações como a de Serralves e a Casa da Música (a visita que o grupo realizou ali ontem, por exemplo, foi guiada pelo jovem arquitecto portuense Tiago Carvalho).
"O que havia era basicamente grupos de arquitectos que, quando vinham ao Porto, ligavam para os escritórios de Álvaro Siza e Souto Moura a pedir que indicassem um dos colaboradores para guiar uma visita", acrescenta Conceição Melo, que teve a ideia de criar a Cultour ao conhecer uma experiência do género na Finlândia. Para já, o negócio não dá para ganhar dinheiro - em 2006 foram realizadas dez visitas guiadas -, mas "dá para curtirmos". Os serviços oferecidos pela empresa não oferecem pacotes predefinidos, sendo a visita personalizada, acompanhada de um especialista e de uma brochura com informações de pormenor.

Berlim, com 200 visitas em 2006, é um sucesso
"Hoje as pessoas já vêem a arquitectura como arte, querem não só entrar nos edifícios assinados por autores contemporâneos como também compreender detalhes da obra. E o Porto tem todas as condições para ter sucesso no sector", explicou ao PÚBLICO Anneke Bokern, também responsável pela empresa holandesa Architour, sediada em Amesterdão.
A arquitecta alemã trabalha não só como guia de visitas especializadas, mas também como jornalista de revistas temáticas. "É um sector em franco crescimento, mas a maioria dos arquitectos-guias ainda não pode ter o turismo como actividade principal", explica. Em 2006, a Architour recebeu 25 pedidos de visitas sobre a arquitectura contemporânea de Amesterdão. Já Berlim é considerada um paradigma de sucesso: registou no ano passado cerca de 200 passeios orientados por arquitectos.
O grupo oriundo de 12 países diferentes participou anteontem numa reunião de trabalho na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, encontro no qual as cidades de Atenas, Roma e Dubai (aceite com estatuto de excepção) foram formalmente incluídas na rede. Uma delas poderá sediar o próximo encontro da organização, assim como outra cuja candidatura esteja neste momento em curso.
"A regra é sempre realizar os encontros na casa de um novo membro", explica Anneke Bokern. Outra norma desta associação de profissionais é que as visitas sejam conduzidas unicamente por arquitectos, historiadores de arte contemporânea ou jornalistas especializados em arquitectura.
O dia de ontem ficou reservado à visita de alguns dos edifícios contemporâneos mais valorizados da área metropolitana do Porto: a Quinta da Gruta (de João Álvaro Rocha, na Maia), a Casa da Música (de Rem Koolhaas, no Porto), a Piscina de Marés e a Casa de Chá da Boa Nova (de Álvaro Siza, em Matosinhos) e, por fim, o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves (também de Siza, no Porto).

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