As Bugas de Aveiro já não têm a fama de outros tempos

Aveiro foi pioneira a nível nacional na criação de um projecto de bicicletas colectivas, de utilização gratuita. Mas estas já viveram melhores dias.

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A Câmara de Aveiro já só tem 200 das 300 Bugas iniciais ADRIANO MIRANDA

Em 2000, ficaram famosas, foram primeira página de vários jornais e até receberam um prémio nacional do Centro Português de Design.

Passados 12 anos, as Bugas (Bicicletas de Utilização Gratuita de Aveiro), pioneiras a nível nacional, vivem momentos menos gloriosos, não obstante o facto de ainda continuarem a circular pelas ruas da cidade. Muitos dos veículos de duas rodas que compõem a "frota" exibem já uma apresentação menos digna, evidenciando alguma degradação. No início eram 300, mas, actualmente, existe apenas a circular um total de 200 bicicletas.

A pergunta impõe-se: o que terá levado a este arrefecimento do famoso projecto das Bugas? Os "pais" das bicicletas gratuitas aveirenses - o executivo camarário socialista, liderado por Alberto Souto -, apontam o dedo à actual maioria PSD-CDS/PP, acusando a equipa liderada por Élio Maia de ter "destruído o que havia". "E as Bugas são apenas o reflexo de toda uma falta de empenho na área da mobilidade e outras áreas", acusa o socialista Eduardo Feiro, que era vereador do pelouro da Mobilidade quando as bicicletas públicas foram oferecidas à cidade. Já a actual maioria, garante que as Bugas continuam a ser bastante procuradas.

Segundo avançou ao PÚBLICO o vice-presidente da autarquia, Carlos Santos, "existiu um aumento no número de utilizações de 2010 para 2011". Os dados oficiais referem que, em 2010, houve 25.289 utilizações e, em 2011, esse valor cresceu cerca de cinco por cento, para um total de 26.480 utilizações. Mais ainda, a câmara assegura que as Bugas "mantêm uma imagem positiva entre os utilizadores e população em geral", como sustentam "os inquéritos recentes no âmbito dos Planos de Mobilidade, tanto intermunicipal (da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro) como municipal".

Ainda assim, o actual executivo camarário reconhece que não tem sido fácil investir na aquisição de novas bicicletas, justificando-se com o facto de "as duas fábricas que fabricaram e montaram as Bugas terem falido, bem como a última empresa, que procedeu à montagem do último lote", referiu Carlos Santos. "Assim, torna-se muito difícil comprar Bugas, que têm de ser mandadas fabricar com o respectivo design (premiado com o Prémio Nacional do Centro Português de Design)", argumentou o vice-presidente da edilidade, ao mesmo tempo que adiantava que, perante isto, "o investimento que tem sido realizado tem sido em peças de substituição, conforme as necessidades de manutenção e reparação vão surgindo".

Perda de entusiasmo

Para os mentores do projecto, não existem dúvidas de que foi esta falta de investimento na aquisição de novos veículos de duas rodas que levou, em grande parte, à perda de entusiasmo em torno das Bugas, associado ao facto de "também não se ter mantido o investimento nas pistas cicláveis, que foram desaparecendo ao longo dos últimos anos", refere o antigo vereador da Mobilidade, actual presidente da comissão concelhia do PS.

A actual maioria tem uma visão diferente, admitindo que "o sistema teve graves problemas de sustentabilidade, por vandalismo e consequente manutenção, em particular porque nunca foi implementado o sistema de publicidade que poderia ajudar no seu financiamento", argumentou, em declarações ao PÚBLICO, o actual vice-presidente da autarquia, num depoimento prestado por escrito.

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