Agricultura rende 700 milhões de euros em Trás-os-Montes

Na opinião do director regional, valores anuais demonstram que o sector "não está propriamente em crise"

Na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, o sector da agricultura rende, em média, 700 milhões de euros por ano, valores que provam que este "não é um sector que está propriamente em crise", afirmou o director regional de Agricultura, Carlos Guerra, depois de analisar a produção das diversas culturas agrícolas na região nos últimos cinco anos. Estes dados deitam por terra o chavão, frequentemente utilizado, de que a agricultura em Trás-os-Montes é um sector em crise. "Afinal, analisando a actividade, no seu conjunto, verificamos que não está tudo tão mau como se diz e o sector agrícola é aquele que mais riqueza introduz", garante o responsável.Uma riqueza "real", assevera, que se reflecte também no modo de vida dos agricultores. "Eu recordo-me de há 20 anos, quando o agricultor tinha um macho e uma [motorizada] Zundapp; actualmente, tem um tractor e uma Mitsubishi Strakar. Na região, existe um tractor por cada meio hectare de área de produção", revela. Com esta realidade, Carlos Guerra não nega que existem problemas e situações de crise pontuais, mas, em relação ao futuro, tem uma perspectiva bastante optimista: "Há ainda muita margem para o aumento da produtividade, muita janela de oportunidade".
As produções mais rentáveis na região são o vinho, a maçã, a castanha e a olivicultura. Em todos estes sectores, continuam a perder-se mais-valias da produção, que acabam por ficar noutras regiões. Isso acontece, por exemplo, em relação à produção de vinho do Porto. "A actividade rende 188 milhões de euros por ano à região, mas, quando essa produção é exportada, ela rende mais de 300 milhões de euros; assim, quase dois terços dessa riqueza ficam fora", revela Carlos Guerra. Outra questão relaciona-se com a comercialização dos produtos. "Nós vendemos tudo em bruto", refere, ficando as mais-valias da transformação igualmente noutras zonas do país. Além disso, existem culturas onde as margens de produção ainda não se esgotaram: "Exemplo disso é, mais uma vez, o vinho e também a castanha".
Na capacidade de iniciativa e profissionalismo, Carlos Guerra considera que os agricultores transmontanos se destacam no todo nacional. Nesta zona, o número de projectos agrícolas apresentados e aprovados aos fundos comunitários é, em muito, superior ao que se verifica noutras regiões, mas isso não significa que se viva em situação de subsidiodependência. O valor das ajudas comunitárias recebidas nos últimos cinco anos representa apenas um terço do valor total da produção, "o que, mais uma vez, prova que não temos uma agricultura deficitária, sendo ela antes auto-sustentável", insiste Guerra.
Esta riqueza produzida também não fica nas mãos de poucos. Em toda a região, há 3500 sociedades agrícolas e algumas com sucesso reconhecido a nível de toda a Europa. "Por exemplo, somos os maiores produtores de coelhos de toda a Europa", exemplifica Carlos Guerra, acrescentando que este tipo de produção se situa principalmente na zona de Chaves.
Para o próximo Quadro Comunitário de Apoio, a aposta deve incidir no aumento da competitividade. Carlos Guerra acredita que existem condições para o sector continuar a melhorar e insiste em combater o chavão de que a crise está instalada. "Todos sabemos que há anos melhores e anos piores, viver da agricultura não é como receber um ordenado fixo ao fim do mês, mas o sector não está propriamente em crise", conclui.

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