Vila Viçosa vai transformar uma pedreira em cenário para espectáculos musicais

Orquestra de Câmara Portuguesa, UHF e The Crow vão actuar junto à exploração desactivada que fica perto do centro. Ideia de fazer ali uma ópera foi abandonada

Transformar feridas urbanas, empedernidas e esquecidas em memórias agradáveis, recheadas de som e e experiências de modernidade é o que o município de Vila Viçosa pretende conseguir com a realização de três concertos junto a uma pedreira desactivada e situada a escassos metros do centro histórico daquela vila do distrito de Évora.

Associar a cultura à história e à economia é uma ideia em maturação, há já algum tempo neste concelho, quando o professor jubilado da Universidade de Évora Laureano Carreira propôs a uma empresa de extracção de mármores que se requalificasse a pedreira para aí realizar espectáculos de ópera. Essa ideia "morreu" por "razões económicas", afirma o presidente da câmara, Luís Caldeirinha Roma (PS), mas manteve-se a vontade de dar uma nova utilidade, ligada à cultura, àquela exploração, que é uma das que povoam a paisagem da Zona dos Mármores. A solução alternativa adoptada é a de fazer concertos junto à pedreira, em que esta servirá de cenário de fundo, em vez de promover ópera dentro da pedreira.

Os concertos vão decorrer a 16, 23 e 30 de Julho: são três sábados com a música clássica da Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida pelo Maestro Pedro Carneiro (dia 16); o rock português dos UHF (dia 23); e a banda de cordas e bateria The Crow (dia 30). "Garantimos que vão ser espectáculos de grande qualidade, com um cenário fantástico resultante da iluminação da pedreira", diz o autarca.

A câmara detém o usufruto da pedreira enquanto os proprietários da exploração, o casal Castro, forem vivos. "Como temos esta mais-valia, o executivo entendeu que seria interessante marcar de uma forma diferente o arranque da requalificação deste espaço, desactivado há mais de uma década, e onde vai ser implantado o Museu do Mármore", acrescenta Luís Caldeirinha Roma (ver outro texto). O líder do município sustenta que este projecto é um sinal de progresso e capacidade de renovação do concelho. "A Pedreira da Gradinha e toda a zona envolvente vão ganhar, a médio prazo, uma nova vida com a transformação da área num auditório ao ar livre, esculpido pelo homem", frisa.

As pedreiras contribuíram para a fixação de população nesta terra alentejana, conhecida como "vila de mármore, onde domina o tom branco e onde tudo nos surge construído em mármore, numa espécie de revestimento lançado sobre toda esta localidade", prossegue o autarca socialista. Documentos históricos comprovam a relevância do mármore desta região ao mostrar a presença dele em obras em Évora, como no templo romano, onde as bases e os capitéis são feitos com mármore de Vila Viçosa. De igual modo, em realizações posteriores, já na Idade Média e períodos subsequentes, tal material foi usado em obras de arquitectura como a Sé de Évora, os famosos Claustros do Colégio do Espírito Santo e, mais modestamente, a Fonte das Portas de Moura.

Este legado não é indiferente à crise que, actualmente, afecta o sector, mas pensar e ter criatividade para projectar a riqueza natural desta pedreira "é um grande desafio que o município assume e está confiante de que é capaz de concretizar", conclui o autarca.

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