Jardim do Príncipe Real reabre hoje recuperado

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O piso e as cadeiras são novas, há 60 novas árvores e foi aberto o troço do aqueduto entre o espaço verde e S. Pedro de Alcântara Nuno Oliveira

O vereador Sá Fernandes fala num trabalho "exemplar" e acusa os críticos de terem "memória curta"

Depois de mais de cinco meses de obra e muita polémica pelo meio, o Jardim do Príncipe Real reabre hoje. O vereador dos Espaços Verdes da Câmara de Lisboa e a arquitecta paisagista responsável pelo projecto sublinham que aqui não houve lugar à "recriação" mas tão-somente à "recuperação", tendo a intervenção sido pautada pela "preservação do desenho e da estrutura" deste espaço, cuja actual forma data de 1869.

Ontem de manhã, o jardim com 1,2 hectares junto à Rua da Escola Politécnica estava ainda isolado por vedações metálicas e fitas e eram vários os funcionários da autarquia que, sob um sol abrasador, se esforçavam por concluir os últimos trabalhos antes do grande dia. Satisfeito com o resultado final da obra que tanta contestação gerou, o vereador José Sá Fernandes conduziu o PÚBLICO pelo espaço e defendeu que só não verá as melhorias quem tiver "memória curta".

"O chão estava todo esburacado", recorda o autarca, enquanto aponta para os novos pavimentos, que, em vez de betuminoso preto, são agora feitos de um material que se assemelha ao saibro (mantendo-se a sua textura, o barulho quando se pisa o chão e a mudança de cor quando chove) mas que tem um ligante para garantir um tempo de vida superior. E as caldeiras? Essas, diz Sá Fernandes, estavam em grande parte "partidas", tendo-se agora promovido a sua recuperação.

A lista de melhorias apontadas pelo vereador inclui ainda a renovada iluminação pública, que, antes, além de "horrorosa", era insuficiente, a intervenção no sistema de rega para permitir uma mais fácil manutenção e a recuperação ou mesmo substituição do mobiliário urbano. "Não se desvirtuou nada", assegura Sá Fernandes, segundo quem esta deverá ser, aliás, considerada uma obra "exemplar" em termos de preservação patrimonial.

Abate de árvores

A acompanhá-lo nesta visita pelo jardim, que, na verdade, se chama França Borges, em homenagem ao jornalista António França Borges, estava a autora do projecto de intervenção. "Foi uma obra de recuperação. Não houve recriação", reforça a arquitecta paisagista Fátima Leitão, afirmando, como tem feito desde que os trabalhos arrancaram, em Novembro de 2009, que "manteve-se todo o desenho e estrutura" deste espaço, cuja estrutura actual vem de 1869 e foi traçada pelo jardineiro João Francisco da Silva.

O que também se mantém é a localização do parque infantil e dos quiosques existentes na praça, sempre tão frequentados nos dias de sol. Tanto ou mais concorridas costumavam ser as mesas e as cadeiras onde grupos de homens de idade mais ou menos avançada se entregavam a animados jogos de cartas. A partir de hoje, poderão continuar a fazê-lo em duas áreas distintas do jardim, embora num novo mobiliário, já que os antigos bancos corridos foram substituídos por lugares individuais em madeira.

Quanto ao abate de árvores, que esteve na origem de toda a controvérsia em redor desta intervenção da Câmara de Lisboa, Sá Fernandes voltou a defender a sua necessidade, embora admita que o processo podia ter sido conduzido de forma diferente e com mais informação aos lisboetas. Segundo as contas do autarca, foram abatidas (ou "substituídas") 55 árvores e plantados 60 novos exemplares.

Ao longo dos últimos meses, o auto-denominado grupo Amigos do Príncipe Real foi-se igualmente queixando de que aquele que era um jardim com "denso arvoredo e frescos e verdes relvados" se estava a transformar num jardim "seco e desensombrado". A arquitecta paisagista Fátima Leitão contesta esta crítica, sublinhando que aquilo que se conseguiu foi "mais luz e transparência". Certo é que o parecer favorável do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico a esta obra só chegou já depois de ela ter começado. Já a Autoridade Florestal Nacional fez saber recentemente que "não houve um claro pedido de parecer formal" por parte da autarquia, embora tivesse havido duas reuniões sobre o assunto.

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