Ippar trava degradação do Convento de Jesus com 500 mil euros

Recuperação total carece de mais 5 milhões de euros e de 10 milhões para o novo edifício do Museu
de Setúbal

O presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), Elísio Summavielle, afirmou ontem que os 500 mil euros desbloqueados pelo Governo para uma intervenção de emergência no Convento de Jesus, em Setúbal, são apenas uma parte do montante necessário para o restauro do imóvel, classificado como monumento nacional desde 1910. O restante, explicou Elísio Summavielle durante a cerimónia de consignação da primeira fase das obras, no valor de 150 mil euros, deverá ser inscrito nos programas de financiamentos nacional e comunitário, nos próximos anos. Para este responsável, o mais importante é que o processo de recuperação comece, para que depois se desenvolva ao longo dos próximos quatro a seis anos. "Está aberta uma perspectiva de recuperação integral desta jóia do nosso património arquitectónico", disse o presidente do Ippar, admitindo que o Convento de Jesus - encerrado há mais de dez anos, devido ao seu estado de degradação - é um "imóvel profundamente carenciado de uma intervenção que lhe devolva a importância que tem".
Desde que foi "picado" no final dos ano 80 que o edifício entrou num processo de degradação cada vez mais acelerado. Quando se apercebeu do estado em que o monumento estava, o presidente do Ippar ficou "chocado" com o que viu.
As obras que vão desenrolar-se ao longo deste ano, com o objectivo de travar a deterioração do edifício, vão incidir, numa primeira fase, sobre a cobertura, fachadas, carpintarias e cantarias da Sala do Capítulo. Seguem depois para o portal da fachada principal, com o tratamento e limpeza das superfícies e a consolidação dos materiais mais instáveis. Ainda este ano deverão arrancar as obras de recuperação e conservação das coberturas e fachadas, restauro da fachada da Capela-Mor e drenagem do edifício.
Intervenções que a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, elogiou, lembrando, no entanto, que elas ficam "muito aquém" das promessas já feitas por ateriores responsáveis do Ippar.
Promessas de 2005
Em Junho de 2005, o então presidente do instituto, João Belo Rodeia, anunciou o calendário e o orçamento previstos para o restauro, cerimónia que teve lugar no próprio convento. O projecto previa uma primeira empreitada, no valor de 2,2 milhões de euros, correspondente à intervenção urgente de desmontagem do betão colocado nos anos 40 e reposição de coberturas e rebocos.
A segunda empreitada, com início previsto para 2008 e num montante de 3,9 milhões de euros, incidiria sobre acabamentos gerais e infra-estruturação do imóvel. A terceira fase corresponderia à construção do Museu de Setúbal, num montante de dez milhões de euros, sendo a maior fatia deste orçamento da responsabilidade da Câmara de Setúbal.
Projectos que em dia de cerimónia de arranque dos trabalhos todos disseram acreditar que venham a concretizar-se, embora de forma faseada. Fernando Pereira, conservador do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, congratula-se com o início da recuperação. "Mesmo que seja pouco, o importante é que a obra comece, porque isso significa que já não pode parar", afirmou, garantindo que, apesar da degradação sofrida pelo imóvel ao longo das últimas décadas, o espólio do museu foi preservado.
Já o edifício "sofreu imenso na sua parte arquitectónica", embora a equipa do museu acompanhe e intervenha nos azulejos, talha dourada e tectos "sempre que necessário para evitar males maiores", disse o conservador.

Sugerir correcção