Chegou o tempo das limonadas

Quarenta graus centígrados convidam a um refresco. Porque não beber uma limonada para matar a sede? Descendo a Rua Nova do Almada, no Chiado em Lisboa, repara-se logo numa montra cheia de limões e num letreiro que diz: "Limonadas e Refrescos". O café chama-se Merendinha Bar e, segundo os empregados, é costume o cliente entrar, beber uma limonada e seguir o seu caminho. "Com este calor apetece uma limonada", diz um homem de meia idade encostado ao balcão. "Prefiro uma boa limonada a uma cerveja", explica, depois de dois goles e já com o copo vazio. "A casa está aberta desde 1936. Nesse tempo é que se vendia muita limonada. Não haviam outros sumos, só o pirolito e a gasosa", conta Artur Costa, empregado desde 1977. "Agora há tantos sumos que há pouca gente a beber limonada. Há pessoas que nem sabem o que é", afirma. "Há 20 anos atrás as pessoas faziam fila. O que se vende agora em 15 dias, dantes vendia-se num dia", diz José Martins, que trabalha ali desde 1968. "Mas não há dia nenhum em que não se venda limonadas", a 90 cêntimos cada uma.Um pouco mais abaixo, na Rua dos Sapateiros fica a Casa das Limonadas. Hoje funciona como snack-bar, mas começou por vender apenas este refresco. À hora de almoço "a maior parte das pessoas bebe limonada", diz um dos gerentes, António Caldeira. Custa um euro o copo e é feita com água engarrafada,Em cima das mesas há alguns copos de limonada vazios e a garrafa com sumo de limão já só tem um restinho. "É cada vez mais difícil encontrar boas limonadas", diz Irene Silva, uma cliente habitual. "Não gosto de refrigerantes e por isso bebo muita limonada, mas sem açúcar".A Casa das Limonadas foi inaugurada em 1928 na Rua da Conceição por João da Silva, que tinha trabalhado num botequim de um galego na Praça do Comércio onde serviam capilé e grogue. Foi nesse botequim que, três anos antes, começara a vender limonadas - refresco que se gabava de ter introduzido em Portugal - e na altura "o sucesso foi tanto que a fila de gente chegava quase à Rua do Ouro", conta Armando da Silva, um dos filhos. Chegavam a gastar-se "três sacos de açúcar amarelo por dia", acrescenta um antigo sócio, Cessiano Rodrigues. Foi num dia de calor, conta, que João da Silva espremeu o sumo de um limão - que era usado para dar aroma ao capilé e ao grogue - e lhe juntou água, gelo e açúcar. Matou a sede e jurou a si próprio que um dia abriria uma casa que vendesse só limonadas. Naquela época não se conhecia ninguém em mais nenhum ponto do país que fizesse este refresco, assegura António Caldeira. Em 1975 a Casa das Limonadas mudou-se para a Rua dos Sapateiros, onde se mantém ainda hoje. O especialista em gastronomia Manolo Carrera, da associação Amigos de Lisboa, explica que a limonada surge em França, onde também já existia o hábito de beber sumos de fruta. Chamavam-lhe "citron pressê" e como muitos outros aspectos da cultura francesa, também este costume acabou por entrar em Portugal. Lisboa tinha uma grande tradição de refrescos, explica, dos vendedores ambulantes que nos dias quentes vendiam capilé e água fresca até, anos mais tarde, aos botequins do capilé, do grogue e do mazagrã. O facto de, no passado, não se comercializarem refrigerantes em Portugal terá influenciado o sucesso destes refrescos e da limonada, acredita António Caldeira. "Mas agora é muito raro encontrar essas bebidas à venda", diz. O capilé ainda se pode encontrar em alguns bares do Bairro Alto e também no Merendinha Bar, por apenas 60 cêntimos. "Vim matar saudades. Já não bebia capilé há dez anos", diz uma mulher aparentando 25 anos, enquanto pousa o copo quase vazio. Espremem-se seis limões e uma laranja e deita-se o sumo e a polpa num recipiente com água a ferver. Juntam-se 250 gramas de açúcar granulado fino, mexe-se e deixa-se arrefecer. Antes de servir adiciona-se gelo e hortelã, para decorar.Raspam-se seis limões em tiras finas, tirando toda a parte branca, e leva-se ao lume durante cinco minutos. Espreme-se o sumo dos limões e junta-se açúcar. Coa-se a infusão da casca dos limões para o recipiente que contém o sumo e mexe-se até dissolver o açúcar. Antes de servir dilui-se com água mineral e junta-se gelo e uma rodela de limão, para decorar.Limonada de CháJunta-se quatro decilitros de chá forte e dois decilitros de sumo de limão. Misturam-se 150 gramas de açúcar e dissolve-se bem. Para servir, junta-se ginger ale gelado, gelo e casca de limão. Coloca-se numa panela uma chávena de chá de água, outra de açúcar e cascas de limão. Deixa-se ferver. Coa-se esta infusão e junta-se-lhe o sumo de dois limões, meia chávena de chá de groselha, um litro de água fria e gelo.CapiléRefresco à base de uma erva, a avenca, que cresce espontaneamente em Portugal e que, em infusão, tem fama de curar gripes, tosses ou rouquidões. Para fazer o capilé junta-se xarope de avenca, água fresca, gelo e casca de limão. GrogueJunta-se água ou chá preto quente com rum branco ou aguardente. Coloca-se uma rodela de limão sob a água ou chá e deita-se por cima dela o açúcar e o rum ou aguardente. Deve ter-se muito cuidado para não se misturarem os ingredientes. No final incendeia-se o rum e depois de queimar está pronto a beber. Segundo Manolo Carrera, apesar de levar rum ou aguardente este é considerado um refresco e não uma bebida alcoólica, por, alegadamente o grogue perder a toxicidade ao ser queimado. Mazagrã Mistura-se uma chávena de café frio forte com uma colher de sobremesa de sumo de limão e duas colheres de sopa de açúcar. Deita-se água e gelo e enfeita-se com uma rodela de limão. O mazagrã é uma bebida energética, uma espécie de Red Bull de antigamente.

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