Aluguer de carros eléctricos passou à tangente na câmara e não deverá passar na assembleia

Uma vereadora da maioria ausentou-se da reunião da Câmara de Lisboa para não inviabilizar uma proposta defendida por António Costa

Só o voto de qualidade do presidente da Câmara de Lisboa e o facto de uma vereadora da maioria não ter participado na votação salvaram a proposta do vereador Sá Fernandes para alugar 70 veículos eléctricos por 3,2 milhões de euros, durante cinco anos. Apesar da aprovação à tangente, o projecto dificilmente se concretizará porque o PSD já se prepara para o chumbar na assembleia municipal.

A reunião de câmara de ontem decorreu à porta fechada, mas, segundo vários intervenientes, a oposição do vereador Nunes da Silva, eleito pelos Cidadãos de Lisboa, ao aluguer dos carros eléctricos foi mal recebida pela maioria e levou o presidente, António Costa, a sair em defesa da proposta. Esta não é a primeira vez que o vereador da Mobilidade e Sá Fernandes, ambos pertencentes à maioria que governa a câmara, entram em confronto: cada um deles está a trabalhar num plano distinto para criar uma rede de aluguer de bicicletas na capital.

Além de Nunes da Silva também votaram contra o aluguer dos 70 carros eléctricos os vereadores do PSD e do CDS, enquanto o PCP se absteve e sete eleitos do PS votaram a favor. A aprovação da proposta com o voto de qualidade do presidente só foi possível porque Luísa Jacobetty, que, tal como o vereador da Mobilidade, integra os Cidadãos por Lisboa, não participou na votação.

Esta vereadora (que substituiu Helena Roseta na reunião camarária de ontem) justificou ao PÚBLICO a sua ausência temporária com uma intoxicação alimentar, mas admitiu que tinha várias "resistências" à proposta de Sá Fernandes e que se preparava para votar ao lado de Nunes da Silva. O vereador da Mobilidade dá, porém, uma versão diferente dos factos e diz que a ausência foi propositada, para que não fossem os Cidadãos por Lisboa a provocar o chumbo de um projecto defendido pelo próprio presidente da autarquia.

"Por uma questão de solidariedade entre os vereadores da maioria, não iríamos contribuir para inviabilizar uma proposta do presidente, até porque isso seria um sinal de ruptura no executivo e a oposição iria tirar ilações que não correspondem à realidade", explica Nunes da Silva. O vereador acrescenta que se a viabilização da proposta dependesse do seu voto teria optado pela abstenção.

Isto apesar de Nunes da Silva criticar "a condução política deste processo", por considerar que não foram discutidas e avaliadas soluções alternativas e menos onerosas. O especialista em transportes também questiona se o aluguer de veículos eléctricos será a forma "mais eficaz no curto prazo e ambientalmente mais interessante" para diminuir as emissões poluentes e o ruído em Lisboa.

O líder do PSD na assembleia municipal disse que embora não tenha estudado a proposta em detalhe se revê na posição dos vereadores do seu partido. "É quase uma provocação os lisboetas pagarem este capricho do vereador Sá Fernandes numa altura de tantas dificuldades. A proposta está desenquadrada no tempo", afirmou António Prôa, deixando antever que o aluguer será travado.

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