Algarve discute traçado de linha de alta tensão

A Rede Eléctrica Nacional colocou em discussão pública o projecto de ligação da linha de alta tensão entre as subestações de Tunes e Estoi. A obra começou na década de 90, mas parou porque foi embargada pela Câmara de Albufeira, por causa do conflito com as populações, que não queria os postes quase em cima das habitações. O projecto é agora retomado, mas por força da nova legislação vem acompanhado de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), apresentando duas alternativas de traçado. Um, situado a Norte (com passagem pelo barrocal e pela serra) e a outro, a Sul, servindo-se do corredor disponível junto à Via do Infante. Hoje a Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT) reúne com as juntas freguesias do concelho de Loulé, para avaliar a sensibilidade dos autarcas para esta obra, considerada "decisiva" para garantir os crescentes consumos de energia na região. Nas actuais circunstâncias, uma eventual falha na linha Ourique-Estoi deixaria metade da região às escuras durante horas, diz o director-geral da Agência Regional de Energia e Ambiente do Algarve (AREAL), José Torrão. O problema é agravado pelo facto de a maioria dos hotéis da região não possuir gerador de emergência.A necessidade da obra não é contestada. Mas levantam-se críticas em relação ao corredor Norte, por causa da conflitualidade ambiental e do risco de prejudicar - quer por causa do impacto visual quer por causa dos alegados riscos para a saúde - grandes projectos turísticos. A associação ambientalista Almargem defende o traçado a Sul, junto à Via do Infante, por considerar que tem "menos impacto"ecológico. O seu presidente, João Santos, recorda, a propósito, que na auto-estrada do Sul, a Rede Eléctrica Nacional também se serviu dessa via para, ao lado, fazer passar os cabos de energia eléctrica. Na zona das povoações, os cabos deverão passar enterrados, defende.De acordo com o resumo não técnico do EIA, no traçado Sul, com uma extensão de 41,5 quilómetros, não é possível "evitar a aproximação com os aglomerados urbanos". O traçado a Norte tem menor impacto nas povoações. Mas atravessa "zonas com importância ecológica, incluindo três sítios propostos para a Rede Natura 2000: Barrocal, Caldeirão e Ribeira de Quarteira", e é maior a extensão a percorrer (52,2 quilómetros). O presidente da Junta de Freguesia de Querença, Viegas dos Santos, rejeita o traçado Norte. Lembra que a primeira proposta de traçado da A2 também cortava a sua freguesia, "mais foi mudado, porque colocava em causa grandes valores paisagísticos". Fazer atravessar estas zonas pela linha de alta tensão "seria um crime que as autoridades em Bruxelas, certamente, não iriam deixar passar em claro", declara. Ainda de acordo com o EIA, no concelho de São Brás de Alportel o corredor Norte entra em choque com duas áreas de aptidão turística previstas no Plano Director Municipal.No que diz respeito ao concelho de Loulé, compromete igualmente o projecto turístico da Quinta da Ombria - campo de golfe, hotel e um aldeamento - aprovado pela câmara. Viegas dos Santos diz tratar-se de um projecto turístico "estruturante" para a região, na medida em que se propõe "revitalizar uma zona do Algarve que está a dar sinais de que é possível inverter o tendência para a desertificação humana do interior" da região. O presidente da Almargem não comenta a questão da Quinta do Ombria, mas lembra que, no caso do corredor norte, "Querença ficaria com um poste de alta tensão, no meio de um campo de golfe". O director-geral da AREAL defende também que a "melhor solução é junto à Via do Infante". De resto, acrescenta, "nos outros países, as linhas eléctricas seguem junto às vias rodoviárias".

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