CP, Refer e Metro divergem sobre ligação da linha de Cascais à da Cintura

A antiga ideia de construir um túnel sob a Avenida de Ceuta para ligar a linha de Cascais à linha da Cintura - e daí a toda a rede de suburbanos de Lisboa - ganhou novo ênfase, com a necessidade de a CP decidir se compra, ou não, automotoras bi-tensão, aptas a circular ao mesmo tempo nos 1.500 volts da linha de Cascais e nos 25.000 volts das outras linhas férreas.A transportadora ferroviária pretende fazer serviços de Algés a Entrecampos - ou mesmo de Cascais a Azambuja, se o mercado o justificar. Mas, mesmo resolvendo o problema da tensão eléctrica, tem o obstáculo da travessia de Alcântara. Existe um projecto para um túnel ferroviário desde a zona das docas à estação de Alcântara-Terra. Nesse cenário, esta última seria substituída por uma nova estação subterrânea, junto ao Pingo Doce.Só que a Rede Ferroviária Nacional (Refer) não contempla esta obra no seu plano de investimentos até 2006 e costuma levantar dúvidas sobre a viabilidade de tal projecto. É que o túnel, em via única, só permitiria a circulação de um comboio em cada 15 minutos, o que é manifestamente pouco para um serviço suburbano. "Corria-se o risco de aquilo ficar saturado no próprio dia da inauguração", diz fonte da empresa, admitindo, contudo, rever as prioridades de investimentos se o Governo assim o entender e avançar para aquela obra, que nunca estaria pronta senão daqui a cinco anos.Confrontado com a necessidade da CP tomar decisões sobre a compra de novas automotoras para Cascais, o Governo anterior mandou estudar o assunto por uma comissão tripartida - formada pela Refer, pela administração portuária e pela Câmara de Lisboa -, de cuja discussão não se conhece nenhum resultado.A CP depara-se ainda com outra dificuldade, que é a expansão da linha do metropolitano que termina no Rato até Alcântara, o que retiraria, pelo menos durante alguns anos, viabilidade a este projecto. É certo que faz mais falta fechar a malha urbano com o prolongamento da linha do Oriente para o Saldanha, por exemplo, mas a ausência de decisões governamentais claras sobre esta matéria e, sobretudo, a falta de uma Autoridade Metropolitana dos Transportes torna tudo ainda mais complexo.O presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, refere exactamente a necessidade de essa autoridade ser criada para arbitrar estes conflitos. Já o ex-presidente de Oeiras e agora ministro das Cidades, que sempre se bateu pela ligação da linha de Cascais à da Cintura, opta por não se pronunciar, alegando que tal assunto é do pelouro do seu colega de governo, Valente de Oliveira.O PÚBLICO contactou o gabinete do ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação para obter esclarecimentos sobre esta matéria, mas não obteve nenhuma resposta.Parte dos comboios CP 2000 que a CP comprou para a linha de Cascais poderão ser transformados em comboios de longo curso. Fariam, nesse caso, a ligação Lisboa-Faro, quando, em 2004, a linha para o Algarve estiver electrificada. Apesar do CP 2000 ser um comboio suburbano, a sua estrutura é passível de melhorias que lhe dêem o conforto necessário a uma viagem de três horas, bastando para tal remodelar os interiores, colocar assentos maiores e mais distantes uns dos outros e equipar uma carruagem com bar. A velocidade pode também ser aumentada com um reforça da tracção, passando dos actuais 140 para 160 quilómetros por hora.Para a CP esta poderia ser uma alternativa muito barata para a ligação ao Sul, por antecipar a resolução de um problema futuro, quando a empresa se confrontar com a necessidade de novos comboios para aquele eixo. É que os dez pendulares actualmente em serviço na linha do Norte já têm taxas de ocupação bastante elevadas. Dificilmente será afecto mais do que um para um serviço diário ao Algarve e, ainda assim, essencialmente por razões de prestígio.A renovada linha para o Algarve vai ter, após electrificação e correcção do traçado, troços em que os comboios poderão circular a 200 quilómetros por hora, possibilidade que a CP terá dificuldade em aproveitar com o material de que dispõe. As locomotivas mais rápidas que possui podem atingir os 220 quilómetros horários (curiosamente estão quase todas afectas ao serviço de mercadorias), mas as carruagens mais modernas estão limitadas a 160 quilómetros de velocidade. A compra de novo material circulante adivinha-se difícil, devido à má situação financeira da empresa, que tem recorrido ao endividamento para comprar novos comboios.Daí que, se a ligação física da linha de Cascais à da Cintura não for uma prioridade para o Governo, a CP possa desistir destes novos comboios para aquela linha e transformá-los em Intercidades para o Algarve.Hoje o presidente da transportadora ferroviária realiza a segunda visita, no espaço de três meses, ao primeiro CP 2000, que está a sair da linha de montagem da fábrica da Amadora. As primeiras unidades deverão começar a circular em Outubro no Grande Porto.C. C.

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