"Quero um metro de superfície em Viseu"

Luís Caetano, candidato do CDS/PP à Câmara Municipal de Viseu,
aposta na inovação e no apoio à iniciativa privada para mudar a face do concelho. E garante que, após um interregno de oito anos, os centristas vão voltar a ter uma voz no executivo municipal. Por Maria Albuquerque, Marisa Miranda (texto) e André Amaral (foto)

Há quatro anos, o CDS/PP falhou por pouco o objectivo de eleger um vereador. "Morremos na praia", reconhece Luís Caetano. Mas desta vez o candidato centrista garante que irá ser eleito, com base num programa que privilegia as acessibilidades e o empreendedorismo. PÚBLICO - O que será um bom resultado para o CDS/PP?
LUÍS CAETANO - Ganhar as eleições autárquicas. Ter mais um voto do que a segunda força política no concelho. O histórico das lideranças do CDS nos executivos municipais, a maior parte deles até sem maioria, faz-me crer que temos novamente condições para podermos ajudar a construir um concelho melhor.
Como pretende derrubar o actual presidente da autarquia?
Não vou derrotar ninguém. O CDS tem um projecto autónomo e autóctone. Pretendemos fazer uma proposta ao eleitorado que não seja inibidora de ninguém. Para nós, a política é de inclusão e nunca de exclusão.
Mas não elege vereadores há pelo menos dois mandatos.
Nas últimas autárquicas ficámos muito perto de eleger um vereador, mas morremos na praia. Agora, com um ligeiro esforço adicional, poderemos alterar, significativamente, o quadro municipal.
Se for presidente de câmara, vai reduzir o número de vereadores (actualmente sete) a tempo inteiro?
Qualquer empresa que tenha um volume de vendas ou um balanço na ordem dos 70 milhões de euros pode bem ser gerida por três pessoas. Tem é de ter chefias intermédias, directores de serviços ou de unidade que potenciem o follow-up das acções que são definidas.
Defende que a autarquia deve atribuir verbas para apoiar pequenas empresas. Acha isso viável?
Com uma reorganização da despesa, poderemos criar outras condições para o desenvolvimento do concelho. Apoiar o empreendedorismo e livre iniciativa, com um aspecto social de integração das pessoas e de desenvolvimento, é um projecto a que o Governo e os municípios têm que estar, obrigatoriamente, presos. Há fundos comunitários disponíveis para estas iniciativas. Temos que agir rapidamente. Estudos da Universidade Católica revelam que de 1997 para 2002 as famílias de Viseu perderam rendimentos. Estamos abaixo da média nacional.
Essa quebra de rendimento advém da conjuntura nacional ou advém de políticas locais?
Tem a ver com a conjuntura nacional, mas também com políticas locais criadas para contrariar esses fenómenos nacionais. Há ferramentas municipais como a derrama, o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e o Plano Director Municipal que podem ser, eficazmente, utilizadas para potenciar esses factores de desenvolvimento.
Tem defendido investimentos inovadores...
Refiro-me a todos aqueles que potenciem o ensino superior de Viseu e que gerem um registo de patentes. Os projectos de inovação só se conseguem em rede, envolvendo o município, a associação industrial, associação de comerciantes, uma eventual associação de consumidores e outras entidades.
Em concreto...
Potenciando todos os protocolos de cidades geminadas, onde vivem viseenses, para tentarmos capturar empresas para virem a Viseu desenvolver trabalhos. E identificar as que já existem, dando-lhes todo o tipo de apoio para que elas próprias desenvolvam projectos de investigação e desenvolvimento. Por exemplo, as empresas que gastem mais do que determinado valor em investigação e desenvolvimento passam a pagar 50 por cento do valor da derrama.
O que deve ser prioritário no âmbito do urbanismo?
A clareza, a transparência na decisão e a capacidade de resposta que devemos passar a ter junto dos cidadãos. Porque é que os cidadãos têm de estar dois ou três anos à espera de uma resposta dos serviços camarários para o projecto de construção?
Preocupam-no as acusações de corrupção nas autarquias, nomeadamente, nesse sector?
A corrupção é um fenómeno que só pode ser contrariado com transparência. Enquanto isso não acontecer, há-de haver sempre fenómenos do tipo: "Cria dificuldades para depois venderes facilidades". O que quero é não criar dificuldades, para que depois não haja necessidade de comprar facilidades.
A ligação à Linha da Beira Alta é prioritária?
Parece-me que há um projecto de construir um comboio entre Viseu e o parque industrial de Coimbrões. [Além disso] vou tentar recuperar a infra-estrutura de caminho-de-ferro que for possível, quer na Linha do Dão, quer na do Vouga, tornando-as em linhas de serviço urbano, passando estas zonas a dispor de um meio alternativo de chegar à cidade. O mais caro no comboio não é a carruagem, é a infra-estrutura. Se tínhamos uma linha, deveríamos tê-la aproveitado. [Acredito que] não vamos ter o TGV por este lado.
E o que acontece à ciclovia?
Estudaremos a sua aplicabilidade. Vamos estudar o que as pessoas querem. Querem a ciclovia ou uma linha interna, com um metropolitano de superfície que potencie a urbanização destas zonas, que vai servir para as pessoas virem até à cidade? Se já está feito o investimento de infra-estrutura, porque não reconvertê-lo em metropolitano de superfície? É, por isso, um dos projectos que quero reavaliar, e abandonaria, se as populações assim o entendessem, a ciclovia. Preocupa-me mais esta mobilidade e acessibilidade interna, porque 30 por cento do emprego por conta de outrem no concelho vem dos concelhos limítrofes. Antes de pensarmos nas grandes obras, vamos pensar nas pequenas obras de grande utilidade. Por exemplo, pôr uma terceira via na Quinta Agrária, a funcionar como a quinta via na Ponte 25 de Abril, que umas vezes funciona para lá, outras para cá. Antes de pensarmos no TGV e antes de sermos sonhadores, vamos pensar condições para as famílias terem pão, qualidade de vida, educação e uma melhor justificação para, apesar da tal quebra de rendimento, viverem em Viseu.

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