Tráfego subiu 17 por cento desde 2008 entre Lisboa e Sintra

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A nova auto-estrada continua a não convencer muitos automobilistas Nuno Ferreira Santos

A16 regista circulação muito abaixo do esperado. Concessionária remete avaliação do seu funcionamento para depois da conclusão da CRIL

O tráfego médio diário no eixo Lisboa-Sintra aumentou, entre 2008 e 2010, cerca de 17 por cento, segundo os dados divulgados pela concessionária do IC19 e da A16. Esta nova auto-estrada, com portagem, sai da CREL (Circular Regional Exterior de Lisboa), na zona de Belas, fazendo a ligação à A5, perto de Cascais, e continua longe de cumprir as previsões de circulação e de aliviar o IC19, entre a capital e a vila de Sintra.

De acordo com números da Estradas de Portugal, o IC19 registou, em 2008, um tráfego médio diário anual (TMDA) de 129.600 veículos. Este valor, segundo a Ascendi, titular da concessão da Grande Lisboa - que engloba, entre outros itinerários, os 16 quilómetros do IC9 entre a Buraca e Ranholas (S. Pedro de Sintra) e os 23 quilómetros da A16 -, subiu, em 2010, para 137.400 viaturas. A circulação no IC19 aumentou, assim, seis por cento nestes dois anos, independentemente da média de 14.000 veículos diários registada na A16, que abriu no início de Outubro de 2009.

Neste mês registou-se o valor médio diário mais baixo dos últimos anos no tráfego do IC19, com 94.196 veículos contabilizados pela Ascendi. Será preciso recuar a Janeiro de 1998, de acordo com a Estradas de Portugal, para encontrar um número parecido: 94.188. Este valor acusa, porém, uma forte quebra - face aos 120.400 contados nesse mesmo mês (Setembro de 2009) - que poderá estar relacionada com as 15.200 viaturas que utilizaram a A16 no primeiro mês de exploração, segundo o Instituto de Infra-estruturas Rodoviárias (Inir).

Embora a Ascendi tenha previsto um TMDA de 26 mil veículos nos primeiros anos, os números continuam muito abaixo desse objectivo: 13.800 (Novembro de 2009), 12.400 (Janeiro de 2010), 11.300 (Fevereiro), 15.000 (Maio), 11.900 (Agosto) e 15.000 (Dezembro). Ou seja, também muito aquém dos "cerca de 20 mil veículos/dia" que o Ministério das Obras Públicas previa, por altura da inauguração, que a nova auto-estrada iria retirar ao IC19.

À espera da CRIL

Os dados estão muito distantes de uma simples transferência de utilizadores, uma vez que o tráfego médio diário no IC19 também registou um aumento significativo. Desde logo, em Novembro de 2009, quando a Ascendi apurou um salto para as 140.000 viaturas. Já em Dezembro, altura em que se verifica menos trânsito por causa do Natal, foram contabilizados 124.000 veículos, valor ultrapassado durante todo os meses do ano passado com picos em Maio (148.000), Abril (145.000) e Julho e Setembro (143.000).

Pegando nos valores das duas vias, a circulação no eixo rodoviário Lisboa-Sintra entre 2008 (só com o IC19) e 2010 (com o IC19 e a A16), aumentou cerca de 17 por cento.

Dos três troços com portagem na A16, a ligação entre Idanha/CREL foi a mais utilizada na maioria dos meses do ano passado, seguida dos 4,6 quilómetros do lanço Ranholas-Linhó (actualmente com uma taxa de 0,95 euros). No meio da tabela fica o percurso entre Sacotes e Telhal. A Ascendi salienta que, durante o período de condicionamentos na CREL, entre Janeiro e Abril de 2010, devido a um deslizamento de terras, se verificou uma quebra de utilizadores da A16.

A empresa do universo Mota-Engil adiantou ao PÚBLICO que "ainda não é possível efectuar um balanço conclusivo dos efeitos desta infra-estrutura rodoviária, uma vez que uma parte importante dos percursos de continuidade e de acessibilidade ao interior da cidade de Lisboa ainda não são possíveis utilizar". É o caso da Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL), cuja conclusão faz parte da concessão da Ascendi, e que só alguns meses após entrar em serviço, o que sucederá em Abril, permitirá uma avaliação global da rede de acessibilidades da região metropolitana.

O Inir, que tutela a rede rodoviária, informou que a Ascendi "não recebeu qualquer compensação do Estado pela exploração da A16", que era, pelo menos até Julho de 2010, "exclusivamente financiada pelo regime de cobrança directa das taxas de portagem". O aumento da procura do IC19 e da A16 surpreende Guadalupe Gonçalves, da Comissão para a Mobilidade Sustentável no Concelho de Sintra, uma vez que se nota algum alívio de tráfego principalmente no IC19. "Só se há algum desvio de Cascais na procura de alternativas à A5", admite a representante dos utentes, salientando que a CP "diz que aumentou a procura na Linha de Sintra" e que a estação do metro da Falagueira tem registado uma maior procura devido à oferta de estacionamento gratuito.

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