Ritmo de vida actual dificulta combate à obesidade infantil

A nutricionista e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Helena Saldanha considera que "responsabilizar directamente" por negligência os pais que falhem no tratamento da obesidade dos filhos, não lhes assegurando uma alimentação saudável e exercício físico, é "demasiado agressivo". Apesar de considerar "errado" que os pais se descuidem e de defender que devem ser aconselhados por médicos, a docente alerta para a dificuldade em combater a obesidade - "é possível, mas difícil" - e em controlar tudo o que as crianças comem: "Hoje em dia, eles tomam quase sempre uma refeição fora de casa, nas cantinas. É muito difícil controlar", diz.

"As escolas é que devem ser mais vigiadas, ter atenção aos menus das cantinas e às máquinas que, muitas vezes, vendem alimentos prejudiciais e podiam ter alimentos saudáveis", acrescenta. O novo ritmo de vida que faz com que muitas crianças sejam "entregues todo o dia a instituições": "As mulheres emanciparam-se, e bem, mas trabalham cada vez mais e isso tem implicações na organização da sociedade. Hoje em dia, trabalha-se muito, temos mais fast food, mais comida de microondas. Mas tem que haver uma organização, porque é a saúde da família que está em causa", defende.

Dieta e exercício

Helena Saldanha explica ainda que existe um tipo de obesidade - que já é "perigosa" e que necessita de tratamento, aliando dieta e exercício - e a chamada obesidade mórbida, em que "as pessoas não morrem da gordura, mas do que esta faz ao coração, aos rins, ao fígado": "Se a pessoa não se tratar, morre", admite. O peso a partir do qual se está diante de um caso de obesidade ou de obesidade mórbida depende da altura da pessoa, sendo determinado pelo índice de massa corporal.

Segundo os resultados de uma investigação da Escola Nacional de Saúde Pública, divulgados em Julho, mais de 30 por cento das crianças e adolescentes portugueses têm excesso de peso. O estudo, dirigido para o grupo etário dos nove aos 18 anos, abrangeu todos os distritos portugueses e incluiu a análise a 5708 adolescentes escolarizados. Os resultados indicam que a prevalência de pré-obesidade infanto-juvenil é de 22,6 por cento e que a prevalência da obesidade é de 7,8 por cento.

Outro estudo divulgado este ano pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade revelava que quase um terço das crianças portuguesas entre os dois e os cinco anos está em estado de pré-obesidade. Maria João Lopes

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