"As escolas antigas eram impróprias de um país que tem os centros comerciais que tem"

O Vale do Sousa, uma das regiões mais densamente povoadas do país, perde 65 escolas. Não houve protestos.

No concelho de Paredes, algumas das 14 escolas que vão fechar têm perto de 100 alunos. Apesar disso, naquele como nos restantes cinco concelhos do Vale do Sousa - que são, a seguir a Lamego, os que somam mais encerramentos, apesar de serem dos mais densamente povoados do país - não se ouviu um único protesto. Porquê? Porque as escolas que fecham, maioritariamente do Estado Novo, estão ser substituídas por centros escolares climatizados e dotados de bibliotecas, pavilhões desportivos e refeitórios, entre outras valências.

"As escolas antigas eram simpáticas mas, por mais que investíssemos nelas, nunca passariam de carochas restaurados", sustenta o vereador da Educação de Paredes, Pedro Mendes, segundo o qual os novos edifícios, que custaram em média três milhões de euros cada, "têm uma arquitectura despertadora dos sentidos", da autoria do arquitecto Nuno Lacerda.

Para colmatar o fecho destas 14 escolas, a autarquia vai inaugurar três centros escolares. E a ideia é que, no ano lectivo seguinte, mais 12 centros escolares abram. "Nessa altura, vamos fechar mais 54 escolas. Aí haverá 10 freguesias que ficam sem escola e, nestes casos, foi preciso explicar com muito cuidado à população por que razão estávamos a fechar escolas que, nalguns casos, tinham perto de 100 alunos".

O facto de nenhuma criança ter de percorrer mais de cinco quilómetros para chegar à escola ajudou. E o facto de esse trajecto ser garantido pela autarquia, num autocarro amarelo-torrado, "para ser facilmente identificado por todos", também.

O resto, argumenta Pedro Mendes, traduz um esforço para melhorar o desempenho do concelho. "Em 2004, em cada 100 jovens de Paredes, só 20 é que acabavam o 12.º ano". Ora, "não era possível inverter a situação em escolas do tempo de Veiga Simão [ministro da Educação de Salazar), com turmas mistas, em que um só professor tem na mesma sala 20 ou 25 alunos da primeira à quarta classe", diz o autarca, para quem "as escolas antigas eram impróprias de um país que tem os centros comerciais que tem".

No total, os seis concelhos do Vale do Sousa perdem 65 escolas. Paços de Ferreira e Lousada perdem, respectivamente, 13 e 5. Felgueiras fica com menos 14 escolas. Em nenhum dos casos pode atribuir-se estes fechos ao problema da desertificação. Veja-se o caso de Felgueiras. "As escolas fecham no âmbito da reorganização do parque escolar. No ano passado, abriram 5 centros escolares e este ano abrem mais sete - ainda há a possibilidade de abrirem mais dois que só não abrem agora porque o empreiteiro faliu", contabiliza João Sousa, vice-presidente da autarquia. Com os novos centros escolares, "deixa de haver freguesias com três escolas e um jardim-de-infância, como até agora".

Em Penafiel, cada um dos dez novos centros escolares que estão a funcionar ou em vias disso "serve a população num raio de quatro quilómetros", adianta o presidente da autarquia, Alberto Santos, segundo o qual algumas das 38 freguesias "tinham duas ou três escolas periféricas e sem condições". Os novos centros escolares agregam jardim-de-infância e 1º ciclo e deverão ter "entre 100 e 150 alunos". "Fugimos aos megacentros escolares, porque entendemos que a escola de proximidade, desde que tenha massa crítica, já permite ganhos de escala, ao nível de bibliotecas, refeitórios...". As 19 escolas concelhias em vias de desaparecer do mapa "já estão juridicamente extintas" e, entre as famílias das 3.518 crianças que frequentam o 1.º ciclo no concelho, não soou nenhuma palavra de protesto. Natália Faria

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