Google ameaça deixar China se for obrigada a manter censura

Foto
Cibernautas chineses deixaram flores nas instalações da Google JASON LEE/reuters

Pequim exige ocultação de páginas sobre Tiananmen e o Tibete como condição para acesso ao mercado com mais cibernautas do mundo

A invasão de contas de e-mail de defensores dos direitos humanos foi a gota de água que levou a Google a anunciar que quer o fim da censura à versão chinesa do seu motor de busca, condição imposta por Pequim para a multinacional americana poder operar na China. Se não for possível, durante as próximas semanas, chegar a acordo com o Governo, a empresa admite encerrar a actividade naquele país.

O ataque, que a empresa descreveu, terça-feira à noite, num comunicado no seu blogue oficial, como "altamente sofisticado", ocorreu em Dezembro e tinha como alvo dezenas de contas do Gmail (o serviço de e-mail oferecido pela Google), usadas por defensores dos direitos humanos na China. Estas contas eram usadas por cibernautas na China, Europa e EUA. O ataque teve origem no território chinês e a Google afirma que os hackers conseguiram acesso a alguma informação, mas não ao conteúdo das mensagens trocadas.

"Estes ataques, e as actividades de vigilância que revelaram - combinados com tentativas ao longo do ano passado de limitar ainda mais a liberdade de expressão na Web -, levaram-nos a concluir que devemos rever a exequibilidade das nossas operações na China. Decidimos que já não estamos dispostos a continuar a censurar os resultados em Google.cn [a versão chinesa do Google]", lê-se no comunicado.

A empresa não chegou a estabelecer uma relação directa entre a invasão dos e-mails e as autoridades chinesas. Mas fez questão de comunicar o caso à Administração americana (os EUA queixam-se frequentemente de ciberespionagem chinesa). A secretária de Estado, Hillary Clinton, já afirmou que o assunto motiva "sérias preocupações" e que os EUA pretendem explicações da China - que é conhecida por ser o país do mundo com as mais fortes políticas de censura de informação na Internet.

Quanto entrou no mercado chinês, em 2006, a Google (de forma semelhante ao que aconteceu com outras empresas de tecnologia) teve de aceitar filtrar os resultados das pesquisas feitas em Google.cn, excluindo, por exemplo, páginas com referências à independência do Tibete ou ao massacre na Praça de Tiananmen.

A aceitação das condições impostas por Pequim valeu fortes críticas à multinacional, incluindo da Amnistia Internacional. Na sequência da decisão de ontem, a icónica fotografia de um homem em frente a tanques durante os confrontos de Tiananmen passou a figurar entre as os resultados das pesquisas feitas em Google.cn.

Google.com acessível

A China é o país do mundo com o maior número de utilizadores da Internet. Mas, embora seja visto como um mercado com grande potencial, está longe de ser o mais rentável e, financeiramente, a Google não tem muito a perder.

Abandonar o mercado chinês significa encerrar a versão chinesa do motor de busca, abandonar os serviços que estejam traduzidos e, eventualmente, encerrar as instalações no país. Contudo, e desde que as autoridades chinesas não os barrem, os cibernautas poderão continuar a usar os vários serviços em inglês do Google (como o Gmail) e a aceder ao motor de busca internacional, o Google.com.

Esta tomada de posição coloca também pressão sobre outras multinacionais, como a Microsft e Yahoo. Tanto uma como outra já foram criticadas por pactuar com autoridades chinesas em actividades de censura. Num dos casos, que envolve um utilizador do Yahoo, as informações fornecidas à polícia acabaram por levar à detenção de um dissidente político.

Sugerir correcção