Empresários da noite portuense reagem ao "insulto" do reitor da Católica

"Ou o reitor da Universidade Católica se retrata ou prova cientificamente aquilo que diz". A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) reagiu ontem, numa conferência de imprensa matinal, às afirmações feitas por Manuel Braga da Cruz, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, considerando que as palavras do reitor são "insultuosas" e "preocupantes". O industriais da noite escreveram, por isso, ao responsável máximo da Católica e ficam à espera de resposta, mas aconselham, desde já, Braga da Cruz a pôr ordem na sua própria casa.Recorde-se que Manuel Braga da Cruz, em entrevista publicada na passada segunda-feira, afirmou que a pressão da indústria de diversão nocturna é uma das causas do insucesso escolar dos universitários, defendendo, por isso, uma maior regulação do sector. Na resposta, os donos dos bares e discotecas do Grande Porto recordam que as universidade têm bares abertos onde servem bebidas alcoólicas a qualquer hora do dia, que os estudantes passam meses em festas como a recepção ao caloiro, a queima das fitas e as várias semanas académicas e que a Associação de Estudantes da Universidade Católica do Porto até vai abrir um bar na cidade. "Tudo - acrescentam os industriais - sem qualquer controlo da qualidade das bebidas e misturas que são ingeridas. E nem pagam impostos". Os donos de bares e discotecas afirmam ainda que o problema é há muito conhecido, que se trata até de um caso de concorrência desleal, mas que nunca se atreveram a meter a foice em seara alheia, ao contrário do que agora fez o reitor. "Foi um erro crasso. Ofendeu uma indústria que assegura milhares de empregos e contribui para o desenvolvimento turístico do país e ofendeu os estudantes, que são maiores de idade, não são crianças", declarou o presidente da ABZHP, António Fonseca.Os industriais da noite apontam à intervenção de Braga da Cruz dois outros pecados, não menos graves: "Podem levar alguns pais menos informados a pensar que somos uma organização de malfeitores e, eventualmente, provocar uma reacção precipitada e policial por parte da classe política". "Os bares e discotecas não são frequentados só por universitários, não se pode interferir na liberdade das outras pessoas", explicou Mário Carvalho, proprietário da discoteca Indústria, questionando, com alguma ironia. "Será que os professores universitários, os cientistas, etc, que frequentam os nossos espaços, perdem as suas capacidades intelectuais?"."A intervenção do senhor reitor é de tal modo caricata e sem nexo, ligeira, que até é difícil responder-lhe. Se nos fazemos notar na sociedade e as pessoas cá vêm é porque somos competentes e trabalhamos. Mas isto não é algo negativo", disse, por seu lado, Rui Martins Pereira, do bar Trintaeum, que deixou ainda um repto: "Em vez de procurar bodes expiatórios, o reitor devia preocupar-se em formar pessoas capazes de apreciar alguns dos programas culturais que dinamizamos, em vez dos estudantes 'pimba' que frequentam as celebrações alcoólicas e sem conteúdo das universidades"."Em vez de procurar bodes expiatórios, o reitor devia preocupar-se em formar pessoas capazes de apreciar alguns dos programas culturais que dinamizamos, em vez dos estudantes 'pimba' que frequentam as celebrações alcoólicas e sem conteúdo das universidades"Rui Martins Pereira, do bar Trintaeum"Será que os professores universitários, os cientistas, etc, que frequentam os nossos espaços, perdem as suas capacidades intelectuais?"Mário Carvalho, proprietário da discoteca Indústria"Foi um erro crasso. (O reitor) ofendeu uma indústria que assegura milhares de empregos e contribui para o desenvolvimento turístico do país e ofendeu os estudantes, que são maiores de idade, não são crianças"António Fonseca, presidente da ABZHP

Sugerir correcção