Santa Maria: Era uma vez nos Anjos

Começamos pela realidade, a da presença de Cristóvão Colombo no regresso da descoberta da América. Corria o ano de 1493, quando em Fevereiro a Niña aportou na baía dos Anjos, fugida de uma tempestade. Aqui o almirante terá ordenado a celebração uma missa de acção de graças e diz-se que parte do altar da Ermida de Nossa Senhora dos Anjos terá vindo da caravela da frota de Colombo. “Mas de nada disto há confirmação”, sublinha Nelson Moura, o nosso guia, nem sequer há na realidade a certeza de Colombo ter vindo a terra. Também se conta que Colombo “foi mal recebido” pela população que o confundiu com um dos muitos piratas que à época já acossavam a ilha; por outro lado, Gaspar Fructuoso, cronista da descoberta dos arquipélagos portugueses, escreveu que lhe foi oferecida galinha cozida, o que os marienses só faziam a pessoas importantes. Certo é que a sua estátua ocupa um espaço nobre, bem no centro de uma rotunda diante da ermida.

E essa ermida também está envolta em lenda. Dela vislumbra-se um cruzeiro no cimo do monte que assinala o local onde foi projectada a construção inicial ermida. Mas, diz a lenda do cruzeiro, as pedras, de um dia para o outro, rolavam colina abaixo, vindo parar ao local onde então se decidiu erguer a mais antiga igreja dos Açores.

A mais recente lenda veio à boleia do geocaching, de que Nelson é entusiasta. E foi ele próprio que decidiu colocar uma cache num dos “acidentes” geológicos entre a baía e o lugar dos Anjos que faz parte do folclore local com o nome da “bruxa dos Anjos” (de perfil, lá vemos o queixo protuberante e o nariz adunco).

E foi ele que também criou uma “lenda” para esta cache, que recua aos tempos pré-descoberta, quando a ilha era habitada por sereias, entre as quais se destacava a Sereia de Além-Mar, guardiã belíssima destas paragens e invejada pelas duas irmãs que lhe rogaram uma praga: se alguma vez fosse vista por um humano transformar-se-ia numa bruxa, cravada na rocha. Quando os portugueses chegaram à ilha, exactamente por esta baía, a maldição cumpriu-se e no ponto mais alto da encosta, onde antes a sereia descansava, ficou a bruxa em que se transformou.

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Paulo Pimenta