Verão deste ano poderá ser mais frio em Portugal

Cenários apontam para redução de até 0,5 graus Celsius na temperatura média, mas há grandes incertezas.

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Recorde mundial da temperatura máxima foi agora revisto Sara Matos

Em França, há quem fale que o próximo Verão na Europa será o mais frio dos últimos 200 anos. Mas em Portugal, as previsões estão longe disso. O Verão poderá ser mais frio, mas não só a variação em relação à média poderá ser pequena, bem como os cenários existentes estão carregados de incertezas insolúveis.

A previsão sazonal mais recente do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), divulgada no passado dia 17, fala em valores que podem estar entre 0,2 e 0,5 graus Celsius abaixo da média em todo o território continental, entre Junho e Agosto. Se o período considerado for de Julho a Setembro, a queda na temperatura aplica-se apenas às regiões Norte e Centro.

A previsão não apresenta qualquer cenário para a precipitação, dado que não há nenhum sinal – positivo ou negativo – que tenha significado estatístico.

Esta perspectiva contrasta com a de um canal francês de informação meteorológica – La Chaine Météo – que tem especulado que 2013 pode vir a ser um “ano sem Verão” na Europa, tal como ocorreu há dois séculos, em 1816. A razão, segundo o canal francês, está numa conjugação de factores, com o Inverno frio e húmido à cabeça.

A agência meteorológica francesa France Météo não reconhece este cenário. Na sua própria avaliação do que pode vir a ser o Verão no país, a France Météo diz que não é possível chegar a nenhuma conclusão, dado que diversos modelos de simulação das condições meteorológicas chegam a resultados díspares para o território francês.

Se há algo em que os meteorologistas concordam é o facto de as previsões do tempo só conseguirem ser razoavelmente precisas a poucos dias. Os cenários sazonais são feitos com base em probabilidades estatísticas e muitas vezes erram o alvo. “O grau de fiabilidade é muito baixo”, afirma o climatologista Ricardo Trigo, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Para reduzir a incerteza, as previsões a médio prazo são agora feitas através do cruzamento de diferentes modelos meteorológicos, procurando extrair, da sua combinação, os resultados mais concordantes. Para cada modelo, são feitas várias simulações do que pode acontecer nos meses seguintes.

Para o próximo Verão, o Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo obteve 196 resultados, com base nos quais chegou aos valores que o IPMA divulgou recentemente. A redução da temperatura média (-0,2 a -0,5 graus) em Portugal e na generalidade da Península Ibérica corresponde ao menor intervalo possível na escala utilizada pelo centro europeu. “É um pequeno sinal”, afirma o meteorologista Nuno Moreira, do IPMA.

No Verão de 1816, os termómetros chegaram a baixar dois a três graus Celsius nalguns pontos da Europa, inclusive na Península Ibérica. “Dois ou três graus a menos é uma anomalia gigantesca”, afirma Ricardo Trigo, que em 2009 publicou um artigo sobre o assunto na revista International Journal of Climatology.

A principal razão para tal queda nos termómetros terá sido a violenta erupção do vulcão Tambora, em 1815, na Indonésia, que lançou enormes quantidades de poeiras no ar, reflectindo de volta ao espaço parte da radiação solar. A erupção ocorreu também num período de menor actividade solar, entre 1790 e 1830, conhecido como Mínimo de Dalton.

Seja como for, ninguém consegue dizer ao certo como evoluirá a próxima estação estival. O próprio IPMA avisa, no documento com as perspectivas para o Verão, que “a previsão sazonal apresenta cenários em termos probabilísticos” e que “a sua utilização deve ser feita com reservas”.

Nuno Moreira explica que as previsões sazonais não são, porém, um mero exercício académico e que têm de ser vistas como um instrumento em processo de evolução. “Nos anos 1970, o grau de certeza das previsões a sete dias não eram o mesmo de hoje”, exemplifica.

A hipótese teórica de um Verão frio alimenta-se da própria sensação pública de que o país está a passar por um ano de temperaturas mais baixas do que o normal. Segundo dados preliminares do IPMA, é de facto o que acontecerá em Maio. Para os meses anteriores, embora a princípio pareça ter predominado o frio, em termos de temperatura, Janeiro e Abril estiveram acima da média, enquanto Fevereiro e Março estiveram abaixo.

 

 

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