Projecto cria plástico biodegradável adaptado à agricultura em Portugal

Produto biodegradável é alternativa ao plástico.

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Actualmente o plástico é reciclado, enterrado ou queimado Enric Vives-Rubio

O agricultor ficou maravilhado. “Isto é mágico, o plástico desaparece. É um milagre”, disse à investigadora.

O “milagre” é um produto biodegradável, feito de amido de milho, que pode ser uma alternativa aos plásticos cada vez mais em voga na agricultura em Portugal e no mundo. É o resultado de um projecto de investigação e inovação financiado pela Comissão Europeia, liderado por uma empresa portuguesa, e cujos resultados foram apresentados esta semana.

O uso de plásticos na agricultura tem crescido de tal forma, que já há um termo novo para designar a combinação de ambos: plasticultura. Além de cobrirem estufas, embalarem fardos ou acomodarem plantas em viveiros, os plásticos são cada vez mais empregues directamente no solo, para proteger determinadas culturas. É uma forma de isolar as plantas de ervas daninhas e de controlar a humidade e a temperatura, aumentando a produtividade.

Mas uma vez utilizado, o plástico – normalmente feito de polietileno, um derivado do petróleo – torna-se um problema. A melhor hipótese é reciclá-lo. Mas muitas vezes é enterrado no solo ou mesmo queimado.

“O plástico biodegradável é a solução do futuro”, afirma Paulo Azevedo, coordenador do projecto e director-geral da Silvex, empresa de Benavente que fabrica filmes plásticos e que lidera a iniciativa. A empresa desenvolveu um produto próprio, a partir de uma matéria-prima já existente no mercado, à base de amido de milho.

O plástico é aplicado sobre as culturas e, depois da colheita, misturado à terra, acaba por decompor-se ao longo de alguns meses, digerido por microorganismos. “É incorporado no solo, junto com o que resta das culturas. Não há qualquer impacto ambiental”, afirma a investigadora Elisabeth Duarte, do Instituto Superior de Agronomia, uma das entidades que também participaram do projecto.

A existência de um filme plástico biodegradável para a agricultura não é novidade em si. “A novidade é que tentámos adaptá-lo às condições de Portugal e Espanha”, diz Elisabeth Duarte. Não só há diferenças óbvias de clima entre pontos distintos da Europa, como a composição do solo é muito variável – normalmente com mais matéria orgânica no Norte e menos no Sul.

No projecto Agrobiofilm, foram estudadas várias formulações para o plástico e o produto foi aplicado em ensaios experimentais ao longo de três anos, em culturas de melão, morango e pimento, com resultados satisfatórios. Também foi testado em vinhas, que revelaram crescer mais depressa, se plantadas com o filme biodegradável do que em solo nu.

Um dos objectivos centrais do projecto é quebrar as barreiras comerciais ao plástico biodegradável, que responde actualmente por apenas 1% do total utilizado na agricultura. “Até agora, não se conseguiu impor, porque está pouco divulgado”, diz Paulo Azevedo. Um dos problemas é o preço, dado que as matérias-primas são mais caras do que o petróleo. O director-geral da Silvex chama a atenção, porém, para a existência de uma comparticipação de um terço dos custos com os plásticos biodegradáveis, numa linha de apoio europeia dirigida a organizações de produtores.

O projecto Agrobiofilm envolveu também empresas, instituições de investigação e agricultores da Noruega, França, Espanha e Dinamarca. “É o primeiro projecto de grande dimensão a nível mundial nessa área”, diz Paulo Azevedo.
 
 

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