Porque morrem os sobreiros?

Dada a importância económica, social e ambiental do sobreiro, porque é que não um centro de investigação que analise porque se assiste ao declínio dos montados.

Comecemos pela importância do sobreiro no nosso país, social, económica e ambiental. Esta árvore, espalhada pela bacia mediterrânica, tem o seu maior enfoque (34%) em Portugal, aproximadamente 715.000 hectares, 23% do total da nossa área florestal, empregando cerca de 10.000 pessoas, muitas delas em zonas carenciadas, sendo o seu produto – a cortiça - responsável em 2011 por um valor superior a €800 milhões de exportações portuguesas (INE), correspondente a 2,1 do total das nossas exportações, com uma quota de mercado mundial de 62% (ITC). Ambientalmente, é um pilar do ecossistema, essencial no que diz respeito ao combate à desertificação e à protecção dos solos, é fundamental na fixação do dióxido de carbono (também com consequências económicas) e liberta oxigénio, sendo ainda base importante na indústria do lazer.

Sendo uma matéria-prima, Portugal não se limita à sua extracção e simples exportação, muito antes pelo contrário, Portugal também importa 10% da cortiça mundial (ITC) que transforma através de modernas fábricas, produzindo como produto acabado rolhas para os mais famosos vinhos e espumantes mundiais, assim como materiais de construção para os países frios.

Por tudo isto, a fileira da cortiça é um dos sectores de inegável importância no contexto da nossa economia, inserindo-se numa mais vasta fileira florestal por onde vai certamente passar o nosso futuro colectivo, fileira de onde provém, para além das rolhas e dos revestimentos de cortiça, produtos com a unicidade e a eminência do papel de escritório e do mobiliário.

Infelizmente, como é do conhecimento geral, a nossa floresta tem sofrido uma série de revezes que têm de alguma forma impedido uma evolução ainda melhor, onde se destacam naturalmente os incêndios e as suas múltiplas causas (desordenamento florestal, ausência de emparcelamento e de associativismo, política florestal, criminalidade, secas, etc.), mas também outras de interpretação mais difícil, onde se destaca a degradação, não exclusiva em Portugal, do montado de sobro.

E porque razão está então o montado de sobro em declínio? Se tem uma tão grande importância no país, como é possível não termos ainda tomado as medidas certas para evitar o actual cenário de sobreiros mortos a que se assiste? E já agora, quais são as causas?

A verdade é que ninguém sabe em rigor porquê, apontam-se vários factores em conjunto como prováveis, como a poluição (influência de Sines), técnicas culturais incorrectas (exemplo: lavouras fundas), factores climáticos, exploração sobre intensiva, doenças, pragas, mas a grande verdade é que ainda não foi estabelecida uma relação causa-efeito directa, mau grado o meritório trabalho que alguns, com poucos recursos, sempre desenvolvem.

Ora não seria natural que já existisse há anos, localizado no nosso país, um centro de investigação e desenvolvimento do sobreiro e da cortiça de excelência mundial, consentâneo com a importância que este sector tem no nosso país, centro de investigação que pesquisasse desde a genética do sobreiro (a começar pela sequenciação do genoma) até à cortiça e suas aplicações, que congregasse os meritórios projectos em curso e que envolvesse os nossos melhores investigadores, abarcando áreas tão distintas como a genética, a agronomia e a silvicultura, a biologia, a física e a climatologia, entre outras?

Como é possível que um país com laboratórios de investigação de renome mundial como o IGC, o Champalimaud, o ITQB, o IBET, o IPATIMUP e o IBMC, só para citar alguns, todos eles com provas dadas em termos internacionais, que investigam os mais variados temas obtendo repetidos prémios de enorme relevância, não se consiga organizar no sentido de pôr os seus melhores também a investigar e a desenvolver de uma forma eficiente e organizada os sectores que maior relevância têm para a sua Economia, como é o caso da cortiça? Isto entende-se, faz sentido?

A falta de recursos é uma óptima justificação, mas o que aqui se passa tem muito mais que ver com a organização que não temos, com a dispersão de atenções que nos caracteriza, com a falta de enfoque no que é realmente importante para o nosso futuro colectivo, com a incapacidade de associação em torno de um objectivo comum, com a inaptidão em juntar entidades públicas e privadas com um propósito que visa o melhor para todos.

Pois temos tudo para que este centro de excelência exista, locais não faltam, quer ao nível da produção quer da indústria existem interesses económicos relevantes que viriam a ser grandemente beneficiados com o fortalecimento do sector da cortiça, pelo que o financiamento teria de aparecer, entidades a trabalhar sectorialmente na área já existem, donde até existiriam economias de escala se trabalhassem mais juntas, o factor humano existente é indiscutível, basta integrar isto tudo, basta de uma vez por todas o país dar este passo em frente num dos seus melhores sectores. Somos capazes?

Engenheiro Agrónomo, Gestor de Empresas
 

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