Lince ibérico deixa de ser uma espécie "criticamente em perigo"

Ligeira melhoria da situação dos linces é uma das novidades da revisão da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.

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Lince-ibérico (“Lynx pardinus”): de “criticamente em perigo” para “em perigo” DR
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Otária de Guadalupe (“Arctocephalus townsendi”): de “quase ameaçada” para “menor preocupação” DR
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Gobião “Coryphopterus lipernes”: “vulnerável” DR
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Orquídea “Paphiopedilum purpuratum”: “criticamente em perigo” DR
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Magnólia “Magnolia lotungensis”: “em perigo” DR

Depois de quase uma década e meia na ribalta como o felino mais ameaçado do mundo, o lince ibérico deixou de ser considerado internacionalmente como um animal “criticamente em perigo”.

Ainda é uma espécie em risco de desaparecer do planeta. Mas desceu um nível na escala de alerta da União Internacional para a Conservação da Natureza, segundo a mais recente revisão da sua Lista Vermelha das espécies ameaçadas, divulgada esta terça-feira.

Em 2002, o lince (Lynx pardinus) também tinha sido protagonista da Lista Vermelha da UICN, mas pelo motivo contrário. Nessa altura, a sua situação passou de “em perigo” para “criticamente em perigo” – sendo essa a categoria a ante-sala da extinção de uma espécie na natureza. “Quando tivemos de agravar a classificação do lince há 13 anos, a sua situação era extremamente alarmante”, disse ao PÚBLICO o investigador Urs Breitenmoser, da Universidade de Berna, Suíça, e co-presidente do Grupo de Especialistas em Felinos da UICN.

A população selvagem estava no limiar da extinção. Em Portugal, não se via um lince na natureza desde o início da década de 1990. “A situação era preocupante também porque não existia uma população de reserva”, afirma Urs Breitenmoser. Praticamente não havia animais em cativeiro.

Com o lince à beira de extinção, Portugal e Espanha uniram-se em projectos conjuntos para a sua conservação. O número de linces triplicou de 52 para 156 entre 2002 e 2012, em duas sub-populações distintas na Andaluzia – na Serra Morena e em Doñana.

De 2012 para cá intensificou-se o programa de reintrodução de linces, com cinco centros de reprodução em cativeiro na Península Ibérica – quatro em Espanha e um Portugal, em Silves. Em Portugal, o primeiro casal foi libertado em Dezembro do ano passado. Agora há pelo menos onze linces a viver no país.

“Este é o mais promissor programa de conservação de uma espécie de felino no mundo”, diz Urs Breitenmoser.

Os resultados desclassificaram o lince ibérico, mas no bom sentido: a espécie deixou a categoria de “criticamente em perigo” e voltou a estar classificada como “em perigo” na Lista Vermelha da UICN. Os indicadores desta melhoria já eram evidentes há algum tempo, mas, na metodologia da Lista Vermelha, é preciso esperar cinco anos para que se confirme que uma espécie ameaçada mudou de facto de estatuto. “Estamos satisfeitos que não tenha sido apenas uma flutuação temporária da população”, afirma o investigador suíço.

Mas o trabalho ainda vai no princípio. “Estar ‘em perigo’ não é uma situação satisfatória”, alerta Breitenmoser. O investigador diz que serão necessários pelo menos mais 15 a 20 anos para o lince ibérico descer mais uma categoria, para a situação de “vulnerável” – e isto se se mantiverem os esforços de conservação e se não houver problemas com os coelhos bravos, o seu principal alimento. E só descendo ainda mais um degrau na escala da UICN – para “quase ameaçado” – é que se poderá dizer que a espécie não está em risco de extinção.

Na nova revisão da Lista Vermelha da UICN, a otária de Guadalupe (Arctocephalus townsendi) é outro caso de sucesso. A sua história vem de longe, desde que foi dizimada pela caça entre o final do século XIX e a década de 1920. O mamífero marinho, que vive na costa do México e da Califórnia, chegou a ser considerado extinto. Não estava, mas quase: em 1950 não havia mais do que 200 a 500 animais. Sob maior protecção, a população aumentou para 20.000 em 2010. Agora, a otária de Guadalupe passou da situação de “quase ameaçada” para de “menor preocupação”.

Mas muitas espécies vão no sentido contrário. O gato dourado africano (Caracal aurata) passou de “quase ameaçado” a “vulnerável”. O leão marinho de Hooker (Phocarctos hookeri) saltou de “vulnerável” a “em perigo”. E mesmo o próprio leão (Panthera leo) – o rei da selva –, embora tenha se mantido com o estatuto de “vulnerável” a nível global, passou a ser considerado “criticamente em perigo” na África Ocidental, devido ao recrudescimento da caça ilegal.

A Lista Vermelha só contém os seres vivos que foram alvo de avaliações científicas, e que são uma minoria: apenas 77 mil das cerca de 1,7 milhões de espécies que se conhecem no mundo. Ou seja, pouco mais de 4,5%.

Novas avaliações trouxeram agora novas preocupações. Por exemplo, 83 das 84 espécies orquídeas sapatinho da Ásia tropical estão ameaçadas de extinção. “Apesar destas espécies estarem bem representadas em colecções cultivadas, o seu desaparecimento em estado selvagem terá grande impacto sobre a sua diversidade genética e a continuidade da sua existência”, alerta um comunicado da UICN.

No reino das plantas, contam-se também nove espécies ameaçadas entre as que dão chá, incluindo duas camélias que só existem na China – Camellia impressinervis e  Camellia chrysanthoides – e das quais não restam mais do 50 a 100 exemplares na natureza.

Nos mares do Caribe, 19 de 143 espécies de gobiões agora avaliadas estão em risco de extinção, devido à destruição dos recifes de corais que são o habitat destes peixes e à competição com espécies invasoras. E na gruta de Giri Putri, em Bali, Indonésia, duas espécies de caranguejo estão neste momento “criticamente em perigo”, vítimas do turismo e das cerimónias religiosas naquele que é o seu único habitat.

No total, há 22.874 espécies ameaçadas em todo o mundo. Na prática, três em cada dez animais e plantas que atraíram a atenção dos cientistas está em risco de desaparecer para sempre da Terra. Há 4735 espécies “criticamente em perigo”, 7124 “em perigo” e 10.925 “vulneráveis”.

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