Estudo revela novos dados sobre a lula gigante

Até agora tinham sido descritas 21 espécies. Mas afinal haverá apenas uma, segundo uma análise genética a amostras de todo o mundo.

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Primeira imagem submarina de uma animal vivo foi captada em 2012 NHK/NEP/Discovery Channel

Há cerca de um século e meio, em 1857, bastaram algumas ventosas, um bico e outros fragmentos encontrados numa praia para que o cientista dinamarquês Japetus Steenstrup atribuísse um nome científico à mítica lula gigante. Agora, cientistas desceram ao nível das células e olharam para os genes do animal para concluir que, a despeito de muitas descrições feitas desde então, afinal há só uma espécie no mundo todo.

É este o principal resultado de um estudo publicado esta quarta-feira na revista Proceedings of the Royal Society B, liderada por investigadores da Universidade de Copenhaga – entre eles uma portuguesa.

É a primeira vez que as lulas gigantes são alvo de uma análise genética comparativa. “Até hoje, não havia nenhum trabalho porque havia poucas amostras”, afirma Paula Campos, do Centro para a Geogenética, do Museu de História Natural da Dinamarca, ligado à Universidade de Copenhaga.

Através de espécimes ou fragmentos de lulas gigante existentes em museus ou centros de investigação, os cientistas – também da Austrália, França, Japão, Estados Unidos, Irlanda e Espanha – conseguiram reunir 43 amostras de músculo, de onde extraíram o ADN das mitocôndrias. A comparação revelou muito pouca diversidade genética, o que leva os investigadores concluírem que provavelmente a família sob a qual estão classificados tais animais “consiste de uma só espécie de lula gigante, nomeadamente Architeuthis dux” ­– a designação dada em 1857 por Japetus Steenstrup.

Até agora, tinham sido atribuídos pelo menos 21 nomes científicos diferentes à lula gigante. Mas afinal serão todos o mesmo animal.

É apenas mais um passo na resolução de uma série de dúvidas sobre a misteriosa lula gigante, da qual ainda se conhece muito pouco. “A nível biológico, não sabemos quase nada, pois são animais que vivem a grandes profundidades”, explica Paula Campos. Só em 2004 foi capturado um exemplar vivo. E em 2012 um animal adulto foi filmado pela primeira vez no seu habitat natural, a 630 metros de profundidade no Pacífico.

Entre o pouco que se sabe, há muitas incertezas. As estimativas de  longevidade variam entre um e 46 anos. A sua dimensão máxima, segundo alguns, chegará aos 50 metros de comprimento, ou 18 metros, segundo cálculos mais realistas citados no estudo agora publicado. Da sua dieta, pode-se dizer apenas que provavelmente é carnívora, composta por pequenos peixes e até outras lulas.

A sua distribuição geográfica será mais ou menos global. O próprio estudo baseia-se em amostras encontradas um pouco por todo o mundo – Japão, Espanha, Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e até nas ilhas Falkland.

A questão geográfica levanta uma dúvida. “Como a lula gigante tem uma dispersão muito alargada, poderíamos esperar uma diversidade genética maior”, afirma Paula Campos. Mas não é o que a análise do ADN sugere.

Uma das explicações plausíveis, segundo o estudo, está numa possível expansão recente de uma população antes pequena, sem que houvesse ainda tempo para uma grande diferenciação genética. Alguns factores poderiam estar por detrás deste fenómeno, como a redução da população de cachalotes – o maior predador de lulas gigantes – devido à intensa actividade baleeira nos séculos XVIII e XIX. Mas são apenas hipóteses.

Paula Campos explica que a análise agora efectuada é preliminar, dado que se baseia no ADN mitocondrial – transmitido apenas pelas fêmeas. Uma conclusão mais consistente depende da análise do ADN do núcleo das células, que é o próximo passo a seguir. 
 
 
 

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