Brasil tem 1051 animais ameaçados mas a baleia jubarte já não está na lista
Novo levantamento da fauna brasileira traça um quadro mais completo das espécies em risco de extinção.
Em 1980, apenas 500 visitavam as águas do litoral do Brasil. Agora, com mais de 15.000 indivíduos, a baleia jubarte – também conhecida como baleia-corcunda ou baleia-de-bossa – vai deixar de constar da lista de espécies ameaçadas de extinção no território brasileiro.
A espécie (Megaptera novaeangliae) é uma das 77 que melhoraram o seu estado de conservação a ponto de deixarem de ser consideradas ameaçadas. É a boa notícia de um vasto levantamento sobre a situação da fauna brasileira feito pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, uma organização vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.
O reverso da medalha é que houve mais entradas do que saídas na lista de espécies ameaçadas, que vai passar a ter 1051 animais, ao invés dos 627 até agora.
O trabalho levou quatro anos a ficar concluído, envolvendo 929 especialistas e 188 instituições. No total, foram avaliadas 7648 espécies de animais, sobretudo vertebrados – 74% dos que existem no país.
O levantamento anterior, feito em 2002, tinha avaliado apenas 1400 espécies, sobretudo aquelas que já se sabia que poderiam estar numa situação mais desfavorável. Dessas, 126 melhoraram o seu estatuto de conservação – 77 das quais deixaram de estar ameaçadas – e 121 pioraram.
Com mais espécies sob mira, é natural que a lista das ameaçadas tenha se alargado. “Aumentou porque o universo é agora cinco vezes maior do que antes”, disse ao PÚBLICO Ugo Vercillo, coordenador da área de conservação no Instituto Chico Mendes.
Vercillo afirma que, das novas espécies ameaçadas, 73% já são alvo de medidas de conservação. A prioridade vai para as restantes e para as que já tinham sido avaliadas e estão hoje pior do que em 2002. “Temos de olhar de imediato para as 121 espécies que pioraram e para as 282 que não tem regime de protecção”, afirma Ugo Vercillo.
Na apresentação dos resultados do estudo, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou um plano de acção para uma destas espécies – o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), que é a mascote do Mundial de Futebol de 2014, mas que passou de “vulnerável” para “em perigo”, segundo a escala de risco da União Internacional para a Conservação da Natureza.
A lista dos 77 animais que deixaram a lista das espécies ameaçadas inclui 21 peixes, 15 aves, 14 mamíferos, quatro anfíbios, um réptil e 22 invertebrados. São quase todas espécies endémicas, ou seja, que só existem no Brasil e em mais lugar nenhum.
Muitas beneficiaram de acções de conservação levadas a cabo nos últimos anos, como o aumento do número de áreas protegidas no Brasil. Só na Amazónia, cerca de 24 milhões de hectares – quase três vezes a área de Portugal continental – foram classificados desde 2002.Com isso, duas espécies do macaco uacari (Cacajao calvus calvus e Cacajao calvus novaesi) já não são consideradas em perigo.
O Governo brasileiro anunciou quarta-feira que vai reservar mais 477 milhões de reais (158 milhões de euros) para apoiar as áreas protegidas da Amazónia nos próximos 25 anos.
Outro exemplo, explica Ugo Vercillo, é o de um peixe conhecido como grama (Gramma brasiliensis). Pescado abusivamente para venda como peixe ornamental, esteve perto de desaparecer. Mas recuperou desde que foi proibida a sua comercialização há cerca de dez anos.
A baleia jubarte tem outra história. Existe em todo o mundo, vivendo a maior parte do ano nos mares polares mas migrando para áreas mais próximas da linha do equador para se reproduzir. No Brasil, surgem durante o Inverno.
Tal como outras baleias, a espécie foi alvo da caça indiscriminada ao longo do século XX, até à moratória internacional adoptada em 1986 pela Comissão Baleeira Internacional.
Mas, segundo Ugo Verillo, outras medidas ajudaram a recuperar o número de baleias que visitam as águas brasileiras, como a sua monitorização, as restrições à circulação de embarcações e à realização de levantamentos sísmicos, e a classificação de toda a Zona Económica Exclusiva do Brasil como um santuário para as baleias. “Não se pode molestar, não se pode matar”, afirma.