Autoridades australianas aprovam dragagem na Grande Barreira de Coral

Ambientalistas avisam que a deposição dos sedimentos dentro do parque marinho põe em risco os corais e os peixes.

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Objectivo é aumentar a capacidade de exportação do porto de Abbot Point em 70% REUTERS/Greenpeace/Patrick Hamilton

As autoridades australianas deram luz verde ao plano de dragagem de três milhões de metros cúbicos de sedimentos do fundo marinho da Grande Barreira de Coral, que prevê a posterior deposição do material no leito do parque. Esta aprovação era o que faltava para transformar o terminal de Abbot Point no maior porto de carvão do mundo, apesar do protesto dos ambientalistas.

A decisão foi tomada pela Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral (GBRMPA, na sigla em inglês), responsável pela protecção da maior e mais famosa barreira de recifes de coral do mundo, situado na costa norte do Estado de Queensland. O plano de dragagem e de expansão do porto de águas profundas de Abbot Point tinha sido já aprovado em Dezembro pelo governo federal.

O porto, gerido pela North Queensland Bulk Ports e explorado pelo grupo indiano Adani, está em funcionamento desde 1984 e serve sobretudo para a exportação de carvão. O plano de expansão prevê a dragagem de três milhões de metros cúbicos do leito marinho para permitir a entrada de mais seis navios, aumentando a capacidade de exportação do porto em 70%.

“A área a dragar fica na zona exclusiva do porto e não dentro do parque marinho”, esclarece a entidade responsável pela protecção da barreira de coral, na sua página na Internet. No entanto, o material retirado do fundo do mar será depositado no parque, a 25 quilómetros do porto.

“É importante sublinhar que a área aprovada para a disposição dos sedimentos é composta por areia, silte e argila, e não contém recifes de coral nem leitos de algas marinhas”, afirma a GBRMPA, numa nota citada pela imprensa australiana. A operação estará sujeita a “rígidas condições ambientais”, acrescenta. Os testes já feitos aos sedimentos que serão dragados não revelaram quaisquer vestígios de contaminantes, garante.

O presidente daquela entidade, Russel Reichelt, justifica que a decisão reflectiu a visão de que “o desenvolvimento portuário ao longo da linha de costa da Grande Barreira de Coral deve ser limitado aos portos existentes”. Por estar em funcionamento há 30 anos, o porto de Abbot Point está em vantagem em relação a outros portos existentes na zona, uma vez que exige menor investimento e manutenção.

Corais em perigo, avisam ambientalistas
Na comunidade científica surgiram duras críticas ao projecto. No início deste mês, 233 cientistas assinaram uma carta dirigida à autoridade que gere o parque a pedir que o plano fosse rejeitado, por considerarem que pode danificar a barreira de coral.

Também os ambientalistas estão contra, alegando que a operação põe em risco a vida marinha existente no parque, o turismo e a indústria da pesca, bem como a classificação como Património Mundial da UNESCO, obtida em 1981. E lembram que os sedimentos finos podem “viajar” até 80 quilómetros, ou seja, podem chegar a zonas ricas em coral.

“Pode não haver recifes de coral no local exacto onde vai ser feita a deposição, mas haverá certamente recifes de coral num raio de 80 quilómetros e estes com certeza ficarão em risco”, afirmou Felicity Wishart, da Sociedade de Conservação Marinha Australiana, citada pelo jornal The Australian.

A Grande Barreira de Coral estende-se ao longo de 2600 quilómetros na costa de Queensland e tem quase 3000 recifes de corais, cerca de dez por cento do número total de recifes existentes no mundo inteiro. No ano passado, a UNESCO ameaçou colocar a Grande Barreira na lista de locais em perigo – ou mesmo excluí-la da lista de sítios classificados como Património Mundial da Humanidade – se nada for feito para proteger o litoral até Junho deste ano.

Um estudo do governo australiano realizado em 2011 mas só publicado em Julho de 2013 revelou que, nos últimos 28 anos, o recife perdeu metade dos seus corais, mas foi na última década que se acentuou essa perda: 37% desde 2005. O documento atesta que “os recifes de coral costeiros estavam em más condições”.

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