Um século de energia em Portugal
Um retrato, em números, da evolução das fontes de energia que alimentaram o desenvolvimento do país.
Capacidade eléctrica instalada (MW) 1915-2015
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1915
A produção pulverizada
A electricidade estreou-se em Portugal com a iluminação da Cidadela de Cascais, no aniversário do rei D.Carlos I, em 1878. A produção regular para abastecimento público teve início alguns anos mais tarde, pulverizada em pequenas centrais e açudes, para consumo local. Em 1895, já funcionava no Porto a central termoeléctrica da Arrábida. Em Lisboa, a central da Avenida foi inaugurada em 1898. A mini-hídrica mais antiga ainda hoje em funcionamento é a do Pateiro (1989), no rio Mondego. Há um século (1915), a potência instalada no país não ia muito além de 10 megawatts (10 MW) - o equivalente a um pequeno parque eólico.
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1921
Central Tejo e depois Lindoso
Museu da Electridade
Inauguração da Central Tejo, em Lisboa, a carvão. No ano seguinte, seria a vez da barragem do Lindoso, em Ponte de Lima. Foram os maiores centros de produção eléctrica no país até à década de 1940.
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1927
Primeira ligação com Espanha
Concluída a primeira interligação eléctrica ibérica - entre as barragens do Lindoso (Portugal) e Conchas (Espanha)
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1944
Prioridade às barragens
Museu da Electridade
Uma lei aprovada esse ano fixou as barragens como prioridade: “A produção de energia eléctrica será principalmente de origem hidráulica. As centrais termoeléctricas desempenharão funções de reserva e apoio".
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1951
Castelo de Bode e a década de ouro
Museu da Electridade
Conclusão da barragem de Castelo de Bode (159 MW), no Zêzere, e da rede primária de transporte de electricidade até Lisboa. Outras barragens emblemáticas vieram a seguir: Belver (Tejo) e Venda Nova (Rabagão) no mesmo ano; Picote em 1958 e Miranda em 1960, ambas no Douro Internacional. A hidroelectricidade dispara, é a sua "década de ouro". No início dos anos 1960, cerca de 90% da potência eléctrica estava nas barragens.
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1972
Central Tejo fecha
Nuno Ferreira Santos
Destronada pela barragem de Castelo de Bode e já a funcionar apenas como reserva, a histórica Central Tejo (65 MW) é encerrada definitivamente.
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1979
A primeira grande termoeléctrica
Museu da Electridade
Portugal inicia a fase das grandes termoeléctricas, com a construção da central de Setúbal (1000 MW). Antes, já tinham sido inauguradas outras menores, como as da Tapada do Outeiro (Gondomar, 1959) e do Carregado (Alenquer, 1979).
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1985
Central de Sines
Rui Gaudêncio
Entra em operação a grande central de Sines, a carvão. Em 1989, estaria totalmente funcional, com 1200 MW de potência. O país aposta no carvão importado. Dez anos depois, surge a Central do Pego, também a queimar o mesmo combustível.
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1992
Alto Lindoso, a maior barragem
Fernando Veludo
Inauguração do Alto Lindoso (630 MW), a maior hidroeléctrica nacional – estatuto que passará para Venda Nova III (730 MW), quando entrar em plena operação ainda em 2016.
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1997
A vez do gás natural
DR
Portugal adopta o gás natural, importado da Argélia, como fonte complementar de energia, estimulando o surgimento de centrais termoeléctricas de ciclo combinado (gás e vapor) e o desenvolvimento da co-geração (electricidade e vapor ou calor) pela indústria.
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2004
Alqueva finalmente
Raquel Esperança
A barragem do Alqueva (240 MW) - construída depois de décadas de polémicas e hesitações - começa a produzir electricidade. Em 2012 a potência foi reforçada com mais 260 MW.
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2005
Eólicas disparam
Nuno Ferreira Santos
Com tarifas subsidiadas, começam a proliferar os parques eólicos nas cumeadas dos montes. Em poucos anos, o vento já se afirmava como uma das principais fontes para a produção eléctrica no país.
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2007
Novo fôlego das barragens
Paulo Ricca
Governo aprova um programa para a construção de sete novas barragens até 2020. A crise económica e a redução no consumo eléctrico atrasaram os investimentos e o plano foi revisto em baixa em 2016.
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2010
Centrais antigas encerram
Carlos Lopes
Encerramento das antigas centrais do Carregado e do Barreiro. Em 2012, seria a vez da central de Setúbal, a fuelóleo. Em 2011, surge uma nova no Pego (836 MW), em Abrantes - de ciclo combinado, a gás natural.
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2015
Produção eclética
O país chegou a 2015 com uma capacidade eclética de produção de electricidade, com as eólicas a representarem já um quarto da potência total, não muito longe das centrais termoeléctricas e das barragens, e com fontes alternativas a começarem a despontar nas estatísticas, como o solar e a biomassa.
Consumo total de energia primária (tep) 1971-2014
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1971
Sergei Karpukhin/Reuters
A subir acelerademente desde o pós-II Guerra, sobretudo nos anos 1960, o predomínio do petróleo no consumo energético total já é esmagador. O carvão tem um peso pouco expressivo e as renováveis resumem-se às barragens e à biomassa tradicional (lenha).
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1980
Dependência quase total
Com um aumento constante do consumo de petróleo, o país atinge o seu recorde de dependência energética do exterior: 93%
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1989
Fosso das renováveis
DR
Valor mínimo da percentagem de energia renovável (11%), em parte pela fraca produção das barragens nesse ano e aumento do consumo de carvão e petróleo.
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2002
O pico do petróleo
Miguel Manso
Ano de maior consumo de petróleo em Portugal. O crescimento económico e um aumento da utilização do automóvel, cuja frota subiu em flecha na década de 1990, são factores centrais. Na produção eléctrica, as renováveis iniciam uma subida vertiginosa.
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2005
O pico do consumo de energia
Pico do consumo energético no país: 27 milhões de toneladas equivalentes de petróleo. A partir daí, o consumo cairia substancialmente, devido à crise e outros factores.
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2012
Petróleo em mínimos
Yves Herman/Reuters
Depois de sete anos de queda, consumo de petróleo recua para valores do princípio dos anos 1980. Crise económica, encerramento de centrais a fuelóleo e automóveis mais eficientes são causas centrais
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2014
Muitas renováveis, menos dependência
A mais baixa taxa de dependência energética desde 1971 (72,4%). As renováveis chegam a um quarto (24%) de toda a energia primária consumida. Quase um terço de todo o petróleo importado é reexportado sob a forma de produtos refinados (gasóleo e gasolina).
Consumo primário de combustíveis fósseis (1000 tep) 1890-2014
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1890
No princípio, só carvão
Museu Mineiro de São Pedro da Cova Sergei Karpukhin/Reuters
Explorado em Portugal desde 1773, o carvão manteve-se como o principal combustível fóssil durante o século XIX e a primeira metade do século XX.
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1951
Petróleo passa à frente
Sergei Karpukhin/Reuters
No pós-guerra, o consumo de petróleo nos transportes e na indústria ganha fôlego e em 1951 ultrapassa o carvão como principal fonte fóssil de energia.
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1985
Sines e o carvão importado
Rui Gaudêncio
Depois de décadas de aposta nas barragens, o país volta-se também para as grandes centrais termoeléctricas. A de Sines, inaugurada em 1985, abriu a porta à importação de grandes quantidades de carvão, cujo consumo sobe. Mas o petróleo continua a dominar.
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1994
Fim do carvão nacional
Encerramento da última mina de carvão em Portugal, a do Pejão, em Castelo de Paiva. Antes, já tinham encerrado as minas do Cabo Mondego (1965) e de São Pedro da Cova (1970). Foi o fim do carvão nacional - mais pobre em termos energéticos do que o importado.
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1997
A vez do gás natural
DR
Portugal adopta o gás natural, importado da Argélia, como fonte complementar de energia, estimulando o surgimento de centrais termoeléctricas de ciclo combinado (gás e vapor) e o desenvolvimento da co-geração (electricidade e vapor ou calor) pela indústria.
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2002
O pico do petróleo
O ano de maior consumo de petróleo em Portugal: 16 milhões de toneladas. O crescimento económico e o aumento da frota automóvel são factores centrais.
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2005
Mais gás do que carvão
Impulsionado pelas novas centrais de ciclo combinado e pela co-geração, o consumo de gás natural ultrapassa o do carvão.
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2012
Petróleo em mínimos
Yves Herman/Reuters
Depois de sete anos de queda, consumo de petróleo recua para valores do princípio dos anos 1980. Crise económica, encerramento de centrais a fuelóleo e automóveis mais eficientes são as principais causas.
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2014
Carvão e petróleo voltam a crescer
Com preços baixos, o carvão voltou a ser utilizado em maior escala para a produção eléctrica, em determinento do gás natural. O petróleo, depois de anos de queda vertiginosa, retoma um ligeiro crescimento.