Wall Street Journal envolve Arnault no empréstimo ao BES que gerou perdas para a Goldman Sachs

O ex-ministro de Durão Barroso, e advogado de negócios, foi um dos nomes a quem Ricardo Salgado recorreu em Maio de 2014, para pedir apoio para salvar o GES.

Foto
José Luís Arnault Adriano Miranda

O ex-dirigente social-democrata José Luís Arnault colaborou na decisão da Goldman Sachs, da qual é um dos vice-presidentes, de financiar em 680 milhões de euros o BES. A operação de securitização foi acordada semanas antes de o banco ser intervencionado.

Esta segunda-feira, o Wall Street Journal avançou na sua edição online que José Luís Arnault e António Esteves, outro português com funções na GS, assumiram um papel decisivo no apoio financeiro ao BES, concretrizado a 3 de Julho de 2014 [mas acordado em Março], num momento crítico do grupo familiar. Mas o balão de oxigénio durou pouco tempo. E a 3 de Agosto, o BES colapsou.

A semana passada ficou a saber-se que o grupo bancário anglo-saxónico, que se tornara pouco antes do colapso do BES, para além de credor, representava ainda mais de 2% do capital (acções que afirma serem de clientes) do banco, assumiu a responsabilidade da perda de 680 milhões. Em causa estava um empréstimo do BES à petrolifera Venezuelana, operação que foi depois objecto de uma securitização da Goldman com recurso à Oak FinanceLuxembourg.

Em Dezembro, depois de o Banco de Portugal ter transferido a divida rdas contas do Novo Banco para o BES, que ficou com os activos problemáticos e sem condições de honrar compromissos, o banco norte-americano assumiu o prejuízo (que afecta também alguns clientes da instituição norte-americana) nas contas do quarto trimestre de 2014. A GS já reagiu à decisão do BdP com uma acção judicial.

O diário nova-iorquino refere que o empréstimo de 835 milhões de dólares (cerca de 680 milhões de euros) da Goldman Sachs ao BES “foi o resultado de um esforço concertado de meses envolvendo vários executivos seniores da Goldman”. E que o contrato foi aprovado “por pelo menos três comités da Goldman”, onde se sentam executivos seniores, cuja função é avaliar de modo rigoroso todas as operações “no que respeita ao risco de crédito” e de reputação da credibilidade do banco.

O diário sublinha que o advogado de negócios português foi recrutado pela Goldman Sachs “devido à sua rede de contactos”, onde se incluía Ricardo Salgado. E terá sido por essa razão, que Arnault ofereceu ao BES a ajuda da Goldman “para conseguir dinheiro emprestado”. Mas coube a António Esteves formar em Londres uma equipa cujo objectivo era “criar uma estrutura complicada para obter o empréstimo”. De acordo com o jornal norte-americano, quer José Luís Arnaut, quer António Esteves declinaram comentar as informações publicadas.

O Wall Street Journal recupera na edição de hoje uma entrevista dada em Junho à Antena 1 por Arnault e onde surge a defender Ricardo Salgado, que renunciara entretanto à presidência do BES, por ter “deixado um banco robusto com capital e credibilidade”.

O advogado de negócios português, antigo ministro-adjunto de José Manuel Durão Barroso entre 2002 e 2004, foi recrutado pelo banco norte-americano no início de 2014. Na sequência, anunciou que se ia afastar da acção politica. Arnault foi um dos vários nomes a quem Ricardo Salgado recorreu em Maio de 2014 para pedir apoio para salvar o GES. Nesta altura, já as várias sociedades do grupo familiar estavam sem condições de se financiar aos mercados. Na mesma época, Salgado sondou ainda Durão Barroso, que chegou a ser “consultor” do BES, e de quem José Luís Arnault é próximo.

Sugerir correcção
Ler 20 comentários