Vinhos, têxtil e conservas tiveram de fazer as malas e conseguiram crescer durante a crise

Foi nas exportações que muitos sectores encontraram uma saída para a retracção do mercado interno.

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Em 2013 as conservas de peixe conseguiram, pela primeira vez desde 2009, estar entre os três produtos agrícolas e alimentares mais exportados Adriano Miranda

Se há dez anos alguém ousasse prever que os vinhos de mesa de Portugal haveriam de chegar a 2013 com um valor de exportação superior à soma das vendas dos dois vinhos históricos do país, o Porto e o Madeira, provavelmente seria recebido com um sorriso de desconfiança. Porque por essa altura era impossível prever que as empresas seriam capazes de aumentar o volume de vendas para o exterior em 85% no período – ou de adivinhar que o Porto acusaria anos sucessivos de quebras de vendas. Em dez anos, o mercado externo do vinho mudou e mudou ainda mais depressa depois da chegada da troika. Em 2013 as exportações voltaram a crescer 2,4%, atingindo os 725 milhões de euros.

Com a procura no mercado interno a cair, as empresas aceleraram a sua exposição em eventos internacionais e aproveitaram o crescimento do mercado mundial (25 mil milhões de euros, quase um terço do valor da ajuda externa a Portugal). Para o conseguirem, obtiveram uma preciosa ajuda da crítica internacional, cada vez mais rendida a um produto que recusou a massificação da produção baseada nas castas internacionais. Com cerca de metade da produção já destinada ao exterior, a margem de progressão das exportações começa a depender cada vez mais do preço. Em termos médios, o preço por litro exportado (2,21 euros) já é mais do dobro do da Espanha e está acima de países como a Itália ou a Austrália.

Mas é neste combate que os produtores parecem mais interessados em participar. País pequeno, que produz tanto como Bordéus, Portugal tem margem para crescer, mas dificilmente poderá bater o pé aos grandes. A Itália exporta mais para os Estados Unidos (1200 milhões de euros) que o Portugal inteiro para o mundo.

A reconversão do têxtil
Também foi lá fora que a indústria do têxtil e do calçado encontrou um caminho para crescer. A contracção da economia portuguesa nos últimos três anos exigiu aos dois sectores um esforço redobrado em encontrar novos mercados. O desafio foi ainda maior porque a Europa, o seu comprador tradicional, também sofreu um forte abrandamento económico, com alguns países a entrar mesmo em recessão. A estratégia, com resultados à vista, passou pela procura de mercados bem mais longínquos. 

A indústria têxtil, que tinha no mercado interno um boa base de vendas, exportou em 2010, antes da intervenção financeira, 3,8 mil milhões de euros, dos quais 3,3 mil milhões de euros para os países da União Europeia (UE) e apenas 566 milhões de euros para fora do território comunitário. Três anos depois, as vendas para o exterior atingiram 4,2 mil milhões de euros, com os mercados extra UE a absorver 764 milhões, um crescimento de 35% face a 2010. As exportações do sector ascendem hoje a 71,1% da produção, que totalizou 5,9 mil milhões de euros em 2013.

Já o calçado sempre esteve mais exposto ao mercado externo. Mas, ainda assim, as exportações cresceram a um ritmo de 28% desde 2010, atingindo 1,7 mil milhões de euros no ano passado. As vendas de calçado para os mercados extracomunitários quase duplicaram nos últimos cinco anos, passando de 8% para 14%. Este sector exporta 98% da sua produção, para 150 países do mundo.

Conservas entre os líderes
Em 2013, as vendas internacionais de preparações e conservas de peixe conseguiram, pela primeira vez desde 2009, estar entre os três produtos agrícolas e alimentares mais exportados. E nunca, em cinco anos, o sector contribuiu tanto para as exportações totais do sector agro-alimentar: passou de um peso de 3,24% em 2009 para 4,03% em 2013.Foi em 2012 que a indústria conserveira deu o maior salto, passando de oitavo maior exportador entre este tipo de produtos, para o quarto lugar. A tendência de crescimento tem sido constante e as vendas internacionais ultrapassaram em 2013 os 206 milhões de euros, uma subida de 15,6% em comparação com o ano anterior.

A indústria das conservas marca presença nos mercados internacionais desde sempre e vende, actualmente, entre 60 a 65% da sua produção a clientes estrangeiros. Contudo, nos últimos anos, a apetência dos consumidores (portugueses incluídos) pelas pequenas latas de peixe teve grande impulso, levando à “redescoberta” das conservas. Ao mesmo tempo, a escassez de matéria-prima - sobretudo de sardinha, o produto estrela das conservas portuguesas - continuou a desafiar os industriais. 

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