Universidade Católica revê crescimento em alta para 1,4% em 2014

Recuperação económica até aos patamares de 2010 pode ser “relativamente rápida”, mas há riscos. Núcleo de estudos aponta para crescimento mais alto este ano e no próximo, mas prevê aumento do desemprego em 2015.

Foto
Em Janeiro e Fevereiro, as importações voltaram a crescer mais do que as exportações Daniel Rocha

A economia portuguesa “ainda não regressou à normalidade”, mas a melhoria de alguns indicadores económicos nos últimos meses levaram o gabinete de estudos económicos da Universidade Católica a rever em alta a projecção de crescimento do produto interno bruto (PIB) para este ano.

Em vez de uma variação de 0,8%, como projectava em Janeiro, o Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) prevê agora um crescimento de 1,4%. A projecção é superior, tanto à do Governo, como à do Banco de Portugal, que estão a contar com um crescimento de 1,2%.

Na folha trimestral que publicou nesta quarta-feira, o NECEP explica que “os dados mais recentes de continuada descida das taxas de juro, de ligeiros crescimentos no investimento, em particular na componente de máquinas e equipamentos, e da manutenção de um saudável crescimento das exportações suportam um quadro económico crescentemente favorável”.

Embora notem a “persistência de sinais favoráveis” em vários indicadores e o facto de a trajectória positiva do PIB ser “baixa em termos históricos”, os economistas do gabinete de estudos avisam que o desempenho da economia estará sempre dependente da “intensidade da recuperação do investimento e da manutenção de níveis robustos de crescimento das exportações”. Mas o maior risco, acrescentam, está ligado às “restrições e incertezas de carácter orçamental”.

Nos dois primeiros meses deste ano as exportações de bens mantiveram a trajectória positiva, mas ao contrário do que aconteceu na maior parte dos meses de 2013, as importações cresceram mais do que as vendas ao exterior.

Para o NECEP, os sinais positivos de recuperação “podem estar demasiado influenciados por uma mudança rápida e favorável das perspectivas da generalidade dos agentes económicos”, razão pela qual diz não poder ser excluída a “hipótese de uma sobrerreacção no curto prazo”. Os desafios de carácter orçamental não foram ainda ultrapassados e há já um grande desgaste das autoridades que poderão abrandar esse esforço na primeira oportunidade”.

O núcleo de estudos chama a atenção para a melhoria “inesperada” das taxas de juro implícitas da dívida pública, numa altura de diminuição da percepção de risco associada aos países periféricos. E enfatiza ainda a melhoria da conjuntura internacional, com a “continuada recuperação económica na zona euro”, os “sinais robustos oriundos da economia norte-americana” e a “resiliência” das economias da periferia da zona euro à diminuição do ritmo do programa de estímulos nos Estados Unidos (por parte de Reserva Federal norte-americana).

Segundo o NECEP, o consumo privado deverá crescer 1,2% (em vez dos 0,8% previstos no início do ano), seguindo-se uma variação de 1,8% no próximo ano.

Quanto ao desemprego, é projectada uma taxa de 15,6% (o Governo prevê 15,7%). Já em relação a 2015, e ao contrário do executivo, que espera uma descida do desemprego para 14,8%, o NECEP projecta um aumento da taxa para os 15,9%.

Também para 2015 foi revista em alta a projecção de crescimento. O NECEP projecta uma variação de 2% em relação a este ano, contra os 1,4% previstos em Janeiro. Mas dada a distância temporal, o NECEP ressalva que há alguns “factores de incerteza que dificultam este exercício de previsão”, nomeadamente factores que podem limitar a recuperação do investimento.

“A perspectiva do NECEP é que a recuperação até aos patamares de 2010 poderá ser relativamente rápida mas, a partir desse nível, as restrições e custos de financiamento podem pesar negativamente no crescimento do investimento e, por conseguinte, na evolução do PIB a médio prazo”, explica o gabinete de estudos no boletim trimestral.

Sugerir correcção
Comentar