UNITA diz que BESA é exemplo de utilização de fundos públicos para “actos ilícitos”

Líder da oposição angolana fala em "lavagens de dinheiro" e diz que sistema bancário do país está "minado".

Foto
Álvaro Sobrinho liderou a gestão do BESA durante vários anos Raquel Esperança

O "caso" BESA é "um exemplo de como pessoas nas vestes de agentes do Estado [em Angola] utilizam os fundos públicos e a autoridade pública para actos ilícitos", disse o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, na intervenção de abertura da IV reunião, de dois dias, da comissão política da UNITA, que termina hoje em Luanda.

"O caso do BESA também levanta sérias questões sobre a integridade do sistema bancário angolano. Como perguntam os mais ingénuos: porque é que um país de desempregados, sub-empregados e de trabalhadores mal pagos que não fazem poupanças tem tantos bancos? O que atrai os bancos para Angola?", questionou ainda o responsável da UNITA.

As dúvidas do líder do maior partido da oposição em Angola - numa alusão aos 25 bancos que operam no país - foram lançadas "São as oportunidades de ganhar dinheiro fácil através da delapidação do Tesouro Nacional? Será que os que governam o país precisam dos bancos internacionais, que são respeitados internacionalmente, para virem cá e receber o produto do roubo na forma de depósitos?" - interrogou-se ainda Samakuva, acusando o sistema bancário de não perguntar pela origem do dinheiro.

"Pegam numa parte desse dinheiro e distribuem a certas pessoas do regime. E outra parte entra em aviões para destinos desconhecidos. À distribuição que fazem chamam empréstimos, só que depois nunca mais pagam tais empréstimos", enfatizou.

Aludindo ao crédito malparado no BESA (detido pelo BES em 55 por cento e agora sob intervenção do Banco Nacional de Angola), que segundo a UNITA poderá atingir os cinco mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros), Isaías Samakuva recordou que esses empréstimos, alegadamente sem garantias suficientes, serviram o interesse privado.

"Estes privados ficaram com o dinheiro, ficaram com as casas, ficaram com as empresas e não querem pagar", acusa, reclamando a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito, nomeadamente sobre a emissão de uma garantia soberana do Estado - cuja revogação foi entretanto anunciada pelo BNA - sobre estas dívidas.

"Quem fala do BESA, fala também dos buracos que existirão nos outros bancos e das lavagens de dinheiro aí praticadas. Todo o sistema bancário está minado", afirmou o líder da UNITA.

Retomando as críticas à liderança de José Eduardo dos Santos, Presidente da República eleito pelo MPLA, Samakuva afirmou que "um grupo de predadores que se confunde com o Estado" e utiliza o sistema financeiro nacional "para executar operações ilícitas de branqueamento de capitais, enriquecimento ilícito e corrupção, dentro e fora de Angola".
"E a Justiça angolana mostra-se incapaz de investigar e julgar tais crimes", rematou.
 

 

Sugerir correcção
Comentar