Uma poopaganda

Nem uma semana falta para o fim de Agosto e os que cuidam das vinhas de Colares passam grande parte do dia com elas, preocupados com as chuvas e com o míldio.

Numa dessas vinhas sobressaem tomates vermelhíssimos, a singrar melhor do que as uvas mais sumarentas. Porquê tantos tomates bojudos no meio de uma vinha?

“Vêm no estrume”, disse o dono, explicando: “E como os tomates são bonitos e não prejudicam as vinhas deixamos crescer...” Dão-me um tomate a comer. Sacudo o pó e mordo. A minha boca enche-se de um sumo cujo sabor é tão delicioso como o cheiro.

Os ingleses chamam poo ao cocó, os americanos preferem poop. Aquele poop que continha as sementes dos tomates que nasceram no meio da vinha vieram de um animal a quem apeteceu comer uns tomatinhos.

Esta maneira de semear é a mais indolente e milagrosa. As sementes até podem vir do poop do mais pequeno passarinho. Ele alimenta-se, faz o seu poop e deixa-o ali na terra onde acabará por frutificar, dando de comer a gerações futuras.

Só que cada tomate tem muitas sementes e, por isso, um tomate comido, dá, depois de passado a poop e aproveitado pela terra, vários tomates. A este fenómeno chama-se poopagação.

Foi pela poopagação que as amêndoas doces excederam as amargas. Os animais não comiam as amargas, preferindo as doces que depois se foram poopagando. A poopagação faz assim uma selecção natural dos alimentos mais deliciosos.

Esta agricultura dita acidental é maravilhosa por ser, afinal, tão poopositada.

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