Um brinde ao vinho

O miúdo que poupa uma moeda para beber um pirolito paga o novo imposto. Já o alcóolico milionário que abre, logo de manhã, a terceira garrafa de tintol da Herdade das Servas Colheita Seleccionada Balthazar 2011 (a 395,50 euros cada uma) não paga imposto novo nenhum. Isto é, só paga caso se lembre de misturar o vinho com uma gasosa.

O casal de velhotes que comemora as bodas de ouro com uma garrafa de Espumante Reserva Doce da Raposeira (a 6 euros a garrafa) vai ter de pagar o novo imposto. Mas espumante não é vinho? Pois claro que não. Espumante é uma frivolidade. Vinho é para gente séria. Espumante é para tolinhos.

E o pedreiro que gosta de ir beber uma bejeca com os amigos? Paga o imposto novo, pois paga. Mas a cerveja não é menos alcóolica do que o vinho? Sê-lo-á certamente. Mas a cerveja é uma estrangeirice. O vinho é português. A cerveja é um insulto à nacionalidade. O vinho corre nas veias de Portugal. Sem ele o coração do cidadão não bate.

Têm sede e não querem pagar imposto? Bebam uma imperial cheia de vinho branco. Gostam mais de cerveja preta? Bebam uma caneca de tinto bem gelado que não pagam mais por isso.

Os refrigerantes, os espumantes e as cervejas são coisas sem as quais passávamos bem durante o reinado de Afonso Henriques. São, no fundo, reles importações que engordam e dão cabo da saúde. Já o vinho é cultura. E a cultura é sagrada: não afecta nem o fígado nem a linha. Mesmo o que vem numa box de 20 litros e custa 15 euros: beba à vontade. À nossa!

Sugerir correcção
Comentar