Trabalhadores dos hotéis recebem turistas no aeroporto para denunciar “precariedade e baixos salários”
Sindicato entrega na sexta-feira comunicados aos visitantes que aterrem no aeroporto de Lisboa para mostrar em que condições trabalham. Hoteleiros querem actualizar convenção laboral.
O Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul entrega, nesta sexta-feira, panfletos aos turistas que circularem no Aeroporto de Lisboa para chamar a atenção para a “precariedade e baixos salários” no sector.
Aproveitando a final da Liga dos Campões, que se disputa sábado em Lisboa entre o Real Madrid e o Atlético de Madrid, o sindicato estará a partir das 10h na Portela para contar aos visitantes em que condições se trabalha na hotelaria nacional. Rodolfo Caseiro, dirigente sindical, diz que esta acção “é o culminar de um conjunto de iniciativas que tem vindo a ser feitas em frente aos hotéis e que arrancaram a 19 de Maio".
“Como os hotéis estão lotados por causa da Champions, vamos entregar um documento que acusa a associação patronal, que quer denunciar o contrato colectivo de trabalho e não quer aumentar os salários”, diz Rodolfo Caseiro.
Cristina Siza Vieira, presidente da direcção executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) contrapõe que a negociação das tabelas salariais não avança sem que seja revista a actual convenção de trabalho, que data de 1982. “Há bastante mais para revisitar na convenção colectiva de trabalho a que estamos ligados. Este contrato é muito antigo e precisa de ser revisto”, defende, lembrando que a AHP já fez chegar à federação sindical a denúncia do contrato colectivo. Cristina Siza Vieira argumenta que é preciso “maior polivalência e flexibilidade das categorias profissionais”, já que, pelo contrato actual, um trabalhador da copa não pode servir à mesa, exemplifica. “Há um sistema muito pesado que também é prejudicial para os funcionários porque não permite mobilidade. A flexibilidade tem de mudar para que também mude a produtividade na hotelaria e, necessariamente, a revisão das tabelas salarias”, defende.
Contudo, o sindicato afecto à CGTP argumenta que “não há bom serviço com precariedade e baixos salários”. Por isso, vai “desejar uma boa estadia aos turistas”, mas também vai dizer-lhes que, nos hotéis onde ficam alojados, os trabalhadores “irão servi-los nestas condições”. Rodolfo Caseiro afirma que o salário médio no sector ronda os 650 euros. Um empregado de mesa de primeira categoria, num hotel de cinco estrelas, ganha cerca de 700 euros. “Há seis anos que a associação patronal se recusa a negociar as tabelas salariais”, acusa, adiantando que o sindicato representa perto de 90 mil trabalhadores.
Cristina Siza Vieira recorda, por seu turno, que a “hotelaria é um sector de mão-de-obra intensiva”. Quanto aos valores salariais, refere que “uma média não quer dizer nada”. “Não olhamos numa óptica de salários, mas de produtividade”, sustenta. Apesar do bom ano turístico – argumento usado pelo sindicato para que haja maior repartição desses resultados pelos trabalhadores – a presidente da direcção executiva da AHP sustenta que o revpar (rendimento por quarto disponível) em 2013 se cifrou em 39,61 euros, quando a taxa de ocupação foi de 59%. “Não é o melhor ano de sempre”, frisou.
Certo é que, ao longe desta sexta-feira, os turistas que aterrarem em Lisboa vão receber os avisos do sindicato, numa acção semelhante à que o Sindicato Nacional de Polícia promoveu recentemente nos aeroportos nacionais. Prevê-se que a final da Liga dos Campões atraia à capital cerca de 70 mil visitantes.