Trabalhadores da CP acusam empresa de se descapitalizar a favor de comprador da CP-Carga

Transportadora fez operação de capitalização da CP Carga através de uma transferência de titularidade dos comboios que lhe alugava

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Com a compra da CP Carga, MSC entra no negócio do transporte ferroviário de mercadorias Rita Franca

A CP procedeu recentemente a uma operação de capitalização da sua participada CP Carga através da transferência da titularidade do material circulante que lhe alugava, e pelo qual recebia rendas anuais. Este processo foi concluído há mais de um mês, “não envolve qualquer movimento de fluxos financeiros” e, admite fonte oficial da CP, “terá efeitos contabilísticos nas duas empresas” que se vão reflectir nas respectivas contas “independentemente do sucesso que o processo de privatização venha a registar na sua etapa final”.

A CP quis, assim, dissociar esta transferência da titularidade do material do processo de privatização da empresa, cujo contrato de promessa de compra e venda foi assinado com a MSC-Rail já no passado dia 21 de Setembro, sempre sob protesto dos trabalhadores, que entregaram um exposição no Tribunal de Contas a alertar para alguns contornos do que apelidam ser "uma negociata". Mais de um mês volvido, o processo ainda não está encerrado - não chegou ao Tribunal de Contas e a Autoridade da Concorrência ainda não se pronunciou - e a CP limita-se a sublinhar que esta capitalização é independente da privatização, ou seja, será uma realidade caso a privatização se conclua, ou não.

A CP Carga foi constituída em 2009, resultante de um processo de cisão e, desde então, opera com locomotivas CP e vagões de propriedade própria. Em causa está a transferência de titularidade de um parque de 59 locomotivas avaliado em 116 milhões de euros e que, até agora, eram pertença da CP, e alugadas pela CP Carga a uma renda anual que rondava os 18,8 milhões de euros, segundo denunciam as Comissões de Trabalhadores. “Esta capitalização da CP Carga não só limpa toda a sua dívida [que estava apontada nos 120 milhões de euros] como representa uma descapitalização da CP em igual montante. E isto a troco de dois milhões de euros", acusam os trabalhadores em comunicado. Recorde-se que a MSC Rail ganhou o processo de privatização comprometendo-se a despender 53 milhões de euros: dois milhões na compra de acções e mais de 51 milhões na assunção de dívidas. 

Os trabalhadores acusam a CP não só de capitalizar o futuro operador privado, mas também de se descapitalizar em igual montante. "A empresa alega não ter dinheiro para adquirir comboios novos, nomeadamente para a frota da linha de Cascais e para a frota de automotores diesel do serviço regional e vai com este negócio descapitalizar-se num valor equivalente a 2/3 da frota da linha de Cascais", escrevem, em comunicado. 

Ainda antes de ter o contrato assinado, o presidente da MSC Portugal, Carlos Vasconcelos, afirmava ao PÚBLICO a intenção de transformar a CP Carga na maior companhia ferroviária de transporte de mercadorias da Península Ibéricaprevendo ter lucros já em 2017. “Os contentores são a base do nosso negócio, mas só este mercado não valeria a pena. Nós vamos manter os actuais tráfegos da CP Carga e ampliá-los”, disse, então, acrescentando que há, em toda a Península Ibérica, espaço para crescer em vários tipos de produtos.

 

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