Toyota recolhe mais de 31 mil viaturas em Portugal

Automóveis terão os seus airbags substituídos. Número de veículos ascende a 5,8 milhões em todo o mundo.

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Em 2015, o fabricante já tinha realizado operação semelhante Toru Hanai/Reuters

A Toyota vai dar início à recolha de 31.383 viaturas em Portugal, para substituição do airbags fabricados pela Tanaka. A anomalia afecta o airbag do passageiro em 21.971 veículos e o do condutor em 9412. Os principais modelos atingidos pela acção da empresa são o Hilux (KUN 25, 26 e 35), o Auris (E15), o Corolla (E15) e o Yaris (P13 e P90).

A marca “vai contactar directamente os clientes das viaturas envolvidas (por carta registada) para que, mediante a sua disponibilidade, se desloquem com as viaturas à Rede Oficial de Concessionários Toyota”, disse ao PÚBLICO um dos responsáveis pela comunicação da Toyota Caetano Portugal, Victor Marques.

A operação não tem custos para os clientes e a operação de substituição dos airbags demorará uma a três horas, segundo a mesma fonte.

A Toyota anunciou esta quarta-feira que vai recolher em todo o mundo mais 5,8 milhões de airbags defeituosos do fabricante Takata.

O fabricante automóvel informou que irá recolher 1,47 milhões de airbags instalados em carros vendidos na Europa, 1,16 milhões de unidades no Japão, 820 mil unidades na China e 2,35 milhões noutras regiões, excluindo os Estados Unidos, onde já tinham sido anunciadas chamadas à revisão.

O fabricante de peças de automóvel Takata arrisca-se a pagar enormes indemnizações devido ao defeito nos sistemas de airbag, ligado a pelo menos 16 mortes. O anúncio desta quarta-feira eleva o número de airbags da Takata recolhidos para 23,1 milhões.

Os modelos afectados, incluindo Corolla e Vitz/Yaris, foram produzidos entre Maio de 2000 e Novembro de 2001 ou entre Abril de 2006 e Dezembro de 2014, segundo a Toyota.

Victor Marques desvaloriza o caso em Portugal. “Estas situações são usuais na indústria automóvel”, diz, acrescentando que a pronta disponibilidade da Toyota em aplicar medidas de monotorização de produto que “envolvem viaturas com mais de dez anos” revelam o apreço e o cuidado que o fabricante tem para com os seus clientes.

Seguindo o exemplo da Toyota Motor Europe, a concessionária portuguesa coloca “a segurança e a qualidade” como uma “prioridade” pondo “clientes e pessoas em primeiro lugar”, diz Victor Marques. E sublinha que a marca não hesitará em tomar “qualquer acção que vise a melhoria destes pilares”.

Os tropeções do gigante automóvel

A Toyota volta a estar nas bocas do mundo pelos piores motivos: a segurança dos consumidores. Algo que tem acontecido diversas vezes ao longo dos últimos anos.

Em 2010, a marca foi confrontada com problemas estruturais no sistema electrónico dos veículos (essencialmente problemas nos travões e no acelerador), o que forçou a empresa chamar à revisão milhões de veículo nos EUA.

Mas foi 2015 o ano negro para aquele que é considerado o maior fabricante automóvel mundial, com sede em Aichi, centro do Japão. Em Maio desse ano deu-se a primeira chamada massiva, para reparar as viaturas que apresentavam problemas no detonador de airbag produzido pela companhia Takata. Na altura, a representante portuguesa da marca esclareceu que os airbags podiam “não deflagrar em caso de acidente”.

Em Julho de 2015 foi a vez de os carros híbridos darem problemas ao nível do software com especial impacto no sobreaquecimento de transístores presentes nos veículos. Nova chamada para revisão foi feita e, desta vez, 868 carros foram às oficinas em Portugal.

Quase um ano depois das primeiras notícias com os airbags da Takata, o problema está longe de ser resolvido. A situação surge pela segunda vez este ano. O que já levou os fabricantes japoneses – Toyota, Nissam, Mazda, Mitsubishi Motors e Fuji Heavy Industries – a optarem por desvincular-se da companhia, de acordo com o jornal The New York Times.

Akio Toyoda, presidente da Toyota desde 2009, disse na sexta-feira passada (dia 21), em conferência de imprensa, que tinha estabelecido como prioridade máxima “assegurar a segurança e a confiança” dos clientes. Com 79 anos de existência e cerca de 340 mil funcionários espalhados pelo mundo, os responsáveis pela fabricante automóvel olham para este problema como uma das maiores dificuldades por que passa a reputação da Toyota.

Mortes e milhões de lesões

A Takata Corporation é uma empresa de fornecimento de sistemas de segurança automóvel, sobretudo de sistemas de airbag quase tão antiga quanto a Toyota, que em 2015 viu o seu produto bandeira pôr em perigo vidas humanas – segundo o New York Times, contabilizavam-se então oito mortes (um número que entretanto duplicou) e mais de 100 milhões de lesões relacionadas com os dispositivos de enchimento defeituosos.

O problema gerado centrava-se “no propulsor nitrato de amónio em enchimento do airbag Tanaka. O nitrato de amónio pode desestabilizar, em casos extremos, fazendo com que o dispositivo exploda e envie fragmentos de metal para dentro do veículo”, explica o mesmo jornal norte-americano.

O porta-voz da Takata fez saber que iriam “começar a mudar para nitrato de guadina no mercado norte-americano, iniciando nas regiões húmidas e quentes, para depois gradualmente passar para outros mercados”, disse em entrevista ao jornal.

Com o anúncio da desvinculação dos principais fabricantes de automóveis japoneses, a Tanaka enfrenta um período incertezas, uma vez que a produção airbags representa cerca de 40% do volume de negócio. No seu último ano fiscal, a empresa registou um prejuízo líquido de 29,5 mil milhões de ienes (cerca de 259 milhões de euros ao câmbio actual) e as perdas das acções em bolsa apresentam uma desvalorização que pode chegar aos 40%.

Apesar de as notícias não serem promissoras para a Takata, Akio Toyoda não descarta a hipótese de voltar a adquirir dispositivos de enchimento à empresa que está agora na origem dos problemas nos veículos da Toyota “se a segurança for garantida”, disse em conferência de imprensa.

Texto editado por Hugo Torres

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