Toshiba vai ser reestruturada e direcção admite despedimentos

Ondas de choque do escândalo de manipulação de contas continuam a afectar a empresa japonesa.

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O presidente Masashi Muromashi, antes da conferência de imprensa onde revelou parte da estratégia para ultrapassar os maus resultados da Toshiba REUTERS/Toru Hanai

A Toshiba admite despedir trabalhadores e redefinir a estratégia em algumas áreas do negócio na sequência do escândalo de contabilidade que revelou que os altos quadros manipularam as contas da empresa ao longo de quase sete anos.

Numa conferência de imprensa nesta quinta-feira, o presidente executivo da Toshiba, Masashi Muromachi, disse aos jornalistas que a maquilhagem nas contas que inflacionou os lucros em cerca de 1,125 mil milhões de euros obriga a empresa a “tomar medidas urgentes”.

“Os últimos problemas de contabilidade podem ter sido conduzidos pelo facto de alguns dos nossos negócios terem perdido capacidade de gerar lucro”, justifica Muromachi, citado pela Reuters.

A tomada de medidas urgentes pode significar despedir trabalhadores em áreas que registaram “fraco desempenho”, tais como na construção de computadores e televisões e procurar parcerias para o sector da energia nuclear, admitiu o responsável.

O presidente executivo acrescentou ainda que o “ambiente para o negócio na energia nuclear no Japão é difícil” e que a empresa terá que resolver “várias questões” relacionadas com a revisão da regulação relativa à energia nuclear nos Estados Unidos (onde os japoneses têm participações em empresas da área).

A Toshiba fez investimentos significativos neste sector em meados da década de 2000. No entanto, a Reuters refere que, com o desastre de Fukushima e com o advento do gás de xisto no mercado norte-americano, a indústria perdeu atractividade.

O presidente executivo da companhia nipónica diz que a restruturação pode afectar temporariamente a base de capital, já fragilizada, menciona a Reuters, uma vez que a Toshiba tem dificuldades em obter fundos através da emissão de obrigações ou venda de acções.

Masashi Muromachi falou em conferência de imprensa no dia a seguir a dois acontecimentos relevantes na empresa, que se continua a bater para enfrentar as ondas de choque causadas pela manipulação da contabilidade.

Uma linha de financiamento que chega aos 2,98 mil milhões de euros foi anunciada na quarta-feira através de um comunicado publicado no site da Toshiba e tem o objectivo de garantir a liquidez da companhia. A empresa tinha já contraído um empréstimo no valor de 2,7 mil milhões de euros.

Também na quarta-feira, a Toshiba viu aprovada pelos accionistas a renovação de alguns dos quadros de gestores. Apesar de, de acordo com a Bloomberg, a empresa nipónica ter identificado mais 30 executivos envolvidos na maquilhagem das contas, estes vão manter-se na companhia sob alçada disciplinar.

É neste contexto que Masashi Muromachi, recentemente empossado como presidente executivo depois de exercer funções como presidente do conselho de administração da Toshiba, anunciou que está a prazo no cargo. “É difícil de imaginar que me manteria nesta posição por três anos ou mais”, afirmou, citado pelo Wall Street Journal (WSJ).

No final de Julho, a direcção liderada por Hisao Tanaka demitiu-se na sequência do escândalo de manipulação de contas, sendo que Muromashi assumiu então a presidência interina da Toshiba, para depois receber o voto de confiança do conselho de administração.

Segundo o WSJ, Muromashi não afastou a hipótese de o seu sucessor vir de fora da Toshiba, o que não é comum na cultura empresarial japonesa.

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