Teoria dos jogos no colapso grego

Pior do que jogar e não ter dinheiro, é jogar com o dinheiro dos outros.

Uma das alegadas especialidades do académico e ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, é a teoria dos jogos. A teoria é um ramo da matemática/economia que estuda situações estratégicas em que os jogadores escolhem diferentes acções na tentativa de maximizar os ganhos (ou minimizar as perdas). Resumindo, se dois jogadores cooperarem, potenciam o seu retorno, se estiverem de costas voltadas, ficam ambos numa situação pior.

Aplicando a lógica da teoria dos jogos ao caso grego, consoante a predisposição do Governo grego e dos credores, poderíamos estar numa das quatro situações. Vamos imaginar uma escala de 0 a 100. Se os dois lados cooperarem, ou seja, se o Syriza aceitar a austeridade e os credores amenizarem essa mesma austeridade, ganham os dois imenso: a Grécia 90 e os credores 100. Se o Syriza aceitar a austeridade, mas os credores não facilitarem, os credores ganham 60 e o Syriza ganha 40. Já se o Syriza não aceitar a austeridade, e os credores aceitarem ser mais brandos, os credores ganham 40 e o Syriza ganha 60. E qual é a situação em que estamos agora? Estamos na pior das situações possíveis na teoria dos jogos, em que nem o Governo de Alexis Tsipras aceita a austeridade, e nem os credores estão dispostos a ceder um milímetro nas suas exigências. Resultado, a Grécia perde 100 e os outros perdem 90.

E o que significa perder 90 ou 100? Ninguém sabe ao certo; só se sabe que é imenso e que implica muita dor e sacrifício. A Grécia está a um passo de deixar de estar na zona euro e os restantes 18 países que partilham a moeda estão prestes a cometer o mesmo erro que os Estados Unidos cometeram quando deixaram cair o Lehman Brothers. É a lógica do “é pequeno, ninguém leva a mal, deixa cair”. No dia seguinte é um enorme pesadelo. O ministro das Finanças austríaco disse, depois da reunião do Eurogrupo em que se deu a ruptura, que os dois lados andam a jogar póquer. “Só que no póquer tu podes perder sempre”, lembrou bem Hans Joerg.

Os dois lados estão a jogar a dinheiro, estão a perder, mas o dinheiro que se perde não é deles. O dinheiro é sobretudo daqueles que em Atenas fazem fila para levantar o que lhes sobra no banco. Este domingo de manhã, das 7 mil caixas de multibanco existentes na Grécia, 500 já não tinham um tostão.

Os próximos dias (horas?) serão um grande ponto de interrogação. Christine Lagarde, numa entrevista à BBC, diz que o rei vai nu e tem razão. Os gregos vão ser chamados a votar no domingo numa proposta que na terça-feira anterior perde a validade. Mas é a própria Lagarde que abre uma janela de esperança: se o sim ganhar de uma forma esmagadora (embora ainda não se saiba a pergunta para a qual a resposta terá de ser sim), os credores ainda estão dispostos a fazer um último esforço para acomodar a Grécia na zona euro. Se é a última cartada ou se é bluff, o tempo, que já é pouco, dirá.

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