TAP em risco de perder dois mil milhões para as low cost

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TAP vai disputar aeroporto de Lisboa com Easyjet a partir de 2012 Foto: Raquel Esperança/arquivo

Investida da Easyjet e da Ryanair vai levar a despedimentos e pode determinar fecho da transportadora nacional, diz estudo interno.

A TAP sempre quis distanciar-se da concorrência low cost, mas, com a entrada em força da Ryanair e da Easyjet em Portugal, os impactos foram inevitáveis. Um estudo interno da transportadora estatal mostra que poderá perder até dois mil milhões de euros com transferência de passageiros e pressão para reduzir preços. Um cenário que levará a despedimentos e, mesmo, a um provável encerramento.

A análise, a que o PÚBLICO teve acesso, foi realizada no início deste ano, na sequência de "um pedido da administração", esclareceu a TAP, quando confrontada com estes cenários. Trata-se de "um estudo técnico feito pelos serviços para fazer uma análise do segmento de baixo custo", acrescentou fonte oficial, que recusou comentar o teor do documento.

De entre as conclusões, destaca-se a estimativa de perdas a longo prazo, que aponta para uma quebra abrupta de receitas. "Tendo por base um ano-cruzeiro, o impacto nos proveitos futuros poder-se-á traduzir numa redução superior a mil milhões de euros, considerando somente a base da Easyjet [em Lisboa], e superior a dois mil milhões de euros, caso se verifique a entrada da Ryanair", refere.

Recorde-se que já é certa a abertura de uma base da Easyjet no aeroporto da Portela, com uma operação de sete aviões, e que se juntará às escalas que a companhia britânica tem em Faro, Porto e Funchal. A irlandesa Ryanair, que também detém bases em Faro e no Porto, tem mostrado igualmente interesse em entrar na capital, mas exige uma redução das taxas aeroportuárias. Tendo em conta os planos da ANA para criar um terminal com custos reduzidos, é provável que se concretize. (ver texto secundário)

Menos 152 milhões por ano

As perdas estimadas por ano, a partir da abertura da escala da Easyjet na Portela, apontam para uma redução entre 44 e 54 milhões de euros. Um valor que aumentará para um intervalo entre 60 e 83 milhões, quando alcançar o objectivo de operar sete aviões a partir de Lisboa. E, se a entrada da Ryanair se confirmar, a quebra de proveitos acumulada poderá fazer disparar a derrapagem para 152 milhões de euros anuais.

Os dois mil milhões de euros que a TAP poderá perder, no longo prazo por causa das rivais low cost, vão ter consequências drásticas. "O valor da empresa seria dramaticamente afectado e [a sua] sobrevivência posta em causa", lê-se no estudo. Com a perda de quota de mercado para a Easyjet e Ryanair e a pressão para descer preços, a transportadora aérea nacional "pode vir a transformar-se numa operadora de menor importância, podendo mesmo culminar no seu encerramento", acrescenta.

Ao perder terreno para a concorrência, a companhia de bandeira será obrigada a "reduzir a frota, podendo levar à reafectação de recursos e, caso a situação se agrave, a despedimentos", diz o documento. Os técnicos da TAP alertam ainda para os impactos negativos nas empresas "a montante e jusante", como a assistência em terra, e na economia, que "se irá ressentir da quebra da receita e posição competitiva na Europa".

A transportadora aérea, cuja privatização está prevista para este ano, no memorando de entendimento assinado com a troika, já sente actualmente na pele as consequências da entrada das empresas de baixo custo em território nacional. Entre 2008 e 2010, tem vindo a perder passageiros no tráfego ponto a ponto, dentro da Europa, e a receita caiu 34 por cento. Uma tendência mais evidente nas ligações a Paris e a Londres, por exemplo.

Uma questão de percepção

Um dos problemas apontados pelo estudo é a dificuldade da TAP em combater o marketing agressivo das suas rivais. "As companhias low cost, devido às fortes campanhas publicitárias, são percepcionadas como sendo sempre mais baratas do que as tradicionais, quando nem sempre essa situação se verifica. E, neste momento ,(...) o factor preço é cada vez mais determinante", refere.

Os técnicos fazem também referência aos apoios públicos que têm sido concedidos ao sector e, maioritariamente, às transportadoras de baixo custo, através do programa Iniciativa.pt, que apoia a criação de novas rotas. "Apesar de a TAP ser a maior transportadora em Portugal e continuar a diversificar e apostar em novos destinos, os apoios do Turismo [de Portugal] e dos aeroportos [ANA] assim não o demonstram", acrescenta o documento.

Impactos nas rotas

As ligações europeias da TAP são as mais afectadas pela concorrência das low cost, que não têm longo curso.

Lisboa-Paris

: Operada pela Easyjet desde 2006. A TAP já sofreu uma quebra de 23 por cento no tráfego e de 19 por cento na tarifa média, causando uma descida de 38 por cento nos proveitos.

Porto-Londres

: Easyjet e Ryanair estão presentes. A TAP teve uma descida de 7 por cento no número de passageiros e os preços caíram 34 por cento, resultando numa redução de 39 por cento nos proveitos da transportadora.

Funchal-Londres

: Operada pela Easyjet. A quebra de receitas atingiu um pico de 42 por cento, associada a uma diminuição de 30 por cento nos preços médios dos bilhetes e a uma recuo de 7 por cento no tráfego da TAP.

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