Sistema solar para secar plantas ganha EDP Inovação

O black.block nasceu para colmatar necessidades próprias, mas foi patenteado e começou a ser vendido no ano passado.

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O Prémio EDP Inovação distingue ideias na área da energia Nuno Ferreira Santos

Gonçalo Costa Martins, 48 anos, arquitecto paisagista, estava a gerir uma exploração de plantas aromáticas quando começou a pensar num sistema que lhe permitisse secar este tipo de plantas, mas que tivesse custos energéticos mais reduzidos. O que era inicialmente uma solução para um problema próprio acabou por se transformar num negócio.

Em parceria com Margarida Soromenho, engenheira agrícola, criou o black.block, um método que permite a secagem de produtos hortofrutícolas aproveitando energia solar e reduzindo os gastos de electricidade. O conceito, que já está no mercado e pensa agora internacionalizar-se, ganhou a edição deste ano do Prémio EDP Inovação, atribuído nesta quinta-feira à noite, em Lisboa, e que distingue ideias na área da energia. O premiado ganha 50 mil euros e um ano na incubadora EDP Starter.

O black.block é um sistema em que a secagem é feita em contentores, num processo controlado por um algoritmo que vai escolhendo um de três métodos, consoante aquele seja mais eficaz num dado momento. O processo pode ser monitorizado e ajustado através da Internet. Está a ser usado em explorações de plantas aromáticas e medicinais, e de frutos.

“Reciclamos contentores, colocamos-lhes chapas de policarbonato por fora e transformamo-los em câmara de secagem”, explicou Gonçalo Martins ao PÚBLICO. Aquele material é responsável pelo aquecimento do ar. “No fundo é uma mini-estufa entre o painel de policarbonato e o contentor”, resume o empresário.

Durante o dia, o sistema usa a luz solar para aquecer o ar, que é depois canalizado, através de ventoinhas de aspiração, para dentro do contentor, onde a humidade relativa se aproxima de zero.  Durante a noite, ou em dias sem Sol, são ligados desumidificadores (e, eventualmente, sistemas de aquecimento), que recorrem a electricidade. Contudo, o facto de estes equipamentos serem necessários sobretudo em períodos nocturnos permite o recurso a tarifas bi-horárias, com o objectivo de poupança de custos. O sistema recorre também ao método de diferencial térmico: quando a temperatura está demasiado alta, o ar é expelido e introduzido ar do exterior. O processo pode ser consultado num computador, smartphone ou tablet, e o método foi patenteado.

Para além da poupança energética, o sistema reduz a emissão de dióxido de carbono. “A emissão de CO2 é de cerca 9,5 quilos por 400 quilos de matéria verde a secar”, indica a informação do projecto. “Face aos sistemas convencionais, a redução por ano ronda as duas toneladas, considerando oito meses de laboração, o que se traduz numa redução superior a 70% nas emissões”.

A solução está a ser comercializada desde o ano passado. A dupla de criadores vendeu 12 contentores, a um preço médio de 14 mil euros. O sistema é modular, o que significa que o tamanho destas câmaras de secagem – tal como o preço – pode variar. 

"O prémio vai dar-nos uma exposição muito grande", refere Gonçalo Martins, acrescentando que os planos de expansão são os mesmos que tinham antes de vencerem o concurso, mas agora com "o selo de qualidade" e a possibilidade de contactos que é aberta pela distinção da EDP.

Em 2016, o objectivo é aumentar as vendas em Portugal, preparando a expansão internacional. Os planos passam por arrancar em 2017 para Espanha, seguindo-se, nos anos seguintes, França e Itália. São todos países com climas parecidos com os de Portugal e onde, explica Gonçalo Martins, existe procura para soluções de secagem.

Para além disto, o conceito poderá estender-se ao mercado doméstico. "Estamos a desenvolver estes sistemas para os aplicar a casas”, diz o empresário. “Nesse caso, é o mesmo princípio de aquecimento de ar, mas não substitui por completo um sistema de aquecimento central”.

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